quarta-feira, julho 27

O Canto do Cisne



Crisálidas dementes



-e-n-c-r-espadas



salientes no desespero da liberdade



rasgam-se véus de teias



murcham pétalas



ideias



veneno anil



sol e sal



lamento visceral



putrefacta a alma do poeta maldito.





Sou poema proibido



lago



rio esquecido



mar de lama afrodisíaca



sangue e suor



sou s.u.s.p.i.r.o



(e respiro)



onde te passeias



em voos rasantes



enquanto morro em ti.



quarta-feira, julho 6

L'opéra imaginaire





Rente ao chão


curvada pelo peso do teu amor


entoo cânticos celestiais


dedos riscam as paredes seculares


deixo um traço


passo a passo


de dança de ondas e marés


12 luas de Garbarek


insinuas-te lesto ingénuo e quase infantil


meu anjo


as madrugadas de Abril


habitam em nós em cada vitória que tentamos


vencer a insónia


viver a luta popular sem pedantismo intelectual


actual


a resiliência da juventude adormecida pelos nossos contos de fadas


e as florestas mágicas que percorro encerram mistérios que não desvendo


sorrio ao entardecer da idade com que me ensinas a experiência cáustica do teu existir atribulado


gostava de viver mais devagar


para ter tempo


de ler todos os livros


com que forro as paredes deste lar


pleno de musica e flores silvestres


com que me visto nos dias


em que me visitas no meu leito de amores guardados


aromas inventados


sabores proibidos


e


o teu corpo no meu


como se fosse sempre a primeira vez.



sexta-feira, julho 1

Éter








Adocicado o segredo


aromatizado de ácido




em suaves doses de ópio


deito-me sem saber se acordo


não adormeço


a dor




c


a


i




o sol


em tapetes de flores vivas


secas


as lágrimas doces de Verão


ser


transparentes


líquidas e quentes




áspero o lençol que me cobre de morte




embalo palavras


esqueço


rostos




ofereço




mariposas em casulos de seda




meu amor de madrugadas violetas




cem cadernos mil canetas


manuscrito o diário


debruado a tinta da china


onde


me encerro.