domingo, julho 22

Voo



Trago as pestanas carregadas de sal
com que adoço o teu olhar
de sede
da alvura da minha pele
quando me curvo para saborear a polpa da tua
seda
de rosto escanhoado pela brisa do mar que te está longe
______________eu
curvo-me________
_________para que o sumo não me escorra pelos seios nus
sabendo que é o teu corpo que degusto
com
sofreguidão
curvada
a tentar tocar-te a alma
num gesto de nem sim nem não.

quarta-feira, junho 27

Guilty Kisses


Fazes-me tranças com papoilas neste cabelo cor de espigas maduras, neste cabelo onde os teus dedos são barcos à deriva por rotas sempre conhecidas, a pele tisnada de encontro à minha mais branca, encostada ao meu peito a tua boca calada por beijos meus e silêncios que insistes em manter, resistindo à vontade do beijo apetecido e quase roubado, sentido de sabor a romãs cor dos meus lábios que te esquecem dentro de mim, que te buscam insistentes e trémulos da distância que nunca te afastou, mesmo sabendo que não mais estaremos juntos, porque a noite é longa e a morte espreita.

Desfaço as tranças, guardo as papoilas no meu caderno de capa negra, caderno cheio de palavras que não dizes, porque és maior que o sonho de te voltar a ter, porque sonho que és meu e não és de ninguém, como este cabelo, que já não é o meu e que me dói na queda, na perda de o ter, como o livro que me deste, em segredo, onde encerro todas as palavras (que não disseste) junto a todas as papoilas que me deixaste nos cabelos, mesmo quando os campos eram apenas terra sem cultivo e nas minhas mãos nasciam searas de trigo com que sacio a fome de ti, num beijo proibido.

terça-feira, junho 19

Until We Bleed


debruças-me devagar sobre o parapeito da janela que me traz sons perfumados de nuvens com que me afastas o olhar caído na tua mão cheia de pétalas com que pestanejas sílabas estonteantes num rosário de ópio.

caminho descalça por entre as searas 
e as espigas acariciam o meu peito despido do teu corpo

grita-me baixinho sofismas que arredondem as metáforas que desprezas para que o dia seja céu e mar.
_____________________beijas-me no altar de pedra

e a música é extrema unção sempre que o amor é cor de água benta com que me soltas os cabelos enfermos despenteados e rebeldes ao vento do teu respirar.
(re)pousas em mim o cansaço dos dias inventados sempre que te prometo mais_________________e mais.


e me dou.


quarta-feira, maio 23

Branco


redescubro-te em cada virar de página em branco dos teus olhos onde dançam perguntas que não te posso responder sem que te desenhe um poema de saliva branca nas tuas costas másculas donde escorrem gotas brancas de paixão. rastos do licor abundante branco e almiscarado das palavras brancas de segredos que nãos são só nossos. traço(s) a preto e branco (de) melodias, agonias, sonhos e beijos a duas bocas a dois corpos de almas brancas de tentações vermelho fogo no branco dos lençóis onde o caminho é a entrada numa nova aventura branca de sete cores como as saias rodadas da saudade que trago no peito arredondado pelas tuas mãos brancas de sabedoria experiente de tanto que moldam os meus seios rijos de pele branca onde tacteias às cegas os contornos do meu corpo branco que te aguarda sem saber esperar nas noites em branco em que te espero sem dormir.

sábado, maio 12

Azul


a distância de que fazes ausência deixa-me em sonhos onde entras espreitando-me nua à luz da lua cheia o teu sorriso azul com que me debilitas os sentidos dormentes os dedos nas minhas costas em cócegas delirando excitações na minha cama azul quando abro os lábios ao teu olhar azul que me penetra a pele de seda tingida de azul céu para onde voo direita à casa de música que guardas junto ao peito numa caixa de cristal azul de palavras ternas e cintilantes de uma provocação azul quando chegas ofegante da corrida que é o percurso do gelo no meu corpo e azul a alma que me foge desvairada e louca azul sempre azul cada vez que te penso e te sei dia lago rio mar encharcado de desejo azul nas nuvens claras das manhãs em que me adormeces com a tua voz rouca azul de saliva respirada em suspenso azul o livro que ainda não te dei porque não sabes de mim em ti.

quarta-feira, abril 25

Vermelho(s)



vermelhos os passos que te conduziram na vida ao encontro de nós. cegos de amor. por vezes dor desfolhada em lágrimas de repressão acesa. vermelhos os rios que desagu(av)am nos corações vagabundos. anarquistas vestidos de juventude, fonte de poder de querer e saber. descobrir mãos dadas de ternura. revolução de olhares, de corpos, de cravos. vermelhos. os caminhos de reencontros. vermelhos os ritos do pão que o diabo amassou. fome e guerra de corpos e almas famintas de liberdade. cravar as unhas nos rostos vermelhos pela felicidade interrompida por velhos ócios. vermelhos  a infância colorida de beijos. vermelhos no crescer a caminhar a teu lado, sabor de gritos vermelhos contra a P.I.D.E que quase te levava. luta em todos os tons de vermelho, mesmo quando a minha cor preferida é azul intenso da saudade que me deixaste, pai. e eu aqui de olhos fechados num choro vermelho.

sexta-feira, abril 13

Verde(s)





A galope num cavalo selvagem como o teu sabor. verde(s) olhares com que me tiras a roupa aguada de pressa. o desejo no canto da boca do corpo, sorriso de rio. vazio o  caminho de f(r)ios suores com que me vestes de ti. dou-te a mão. no saber do teu colo a minha flor que é mar. estrela cadente no teu peito em suspiros de sol. terra-mãe, fecunda num respirar de palavras interditas. dança-me meu amor, num rodopiar de valsa enquanto me tomas num tango de vida. a chegada suavizada pela vertigem que é sangue. sou liberdade conquistada segundo-a-segundo numa sedução de música à flor da pele. sou vida e morte. sul-norte. desvario de ti. em mim. sorte? 

sexta-feira, março 30

Cinza(s)...



Escuto-te a voz e a melodia nasce-me no peito no corpo que arrepia o ar de fogos nas serras por onde caminho descalça quando te penso água, quando te penso sumo, gelo a derreter-me contigo, quando te imagino a pensares-me mesmo quando não me telefonas, porque o tempo não chega para sequer pensares em ti. Enrosco-me na preguiça, contigo no meu corpo, mesmo a quilómetros de distância, em que o meu perfume apenas te inebria a imaginação do beijo aflorado numa sms.
Noites em que a saudade afogada num bar onde não bebo, me é pele, carne viva, em lume de desespero pela ausência.

Viajo no vento que desordena palavras num coração aceso pela duvida de saber de ti.

Bandos de cegonhas sobrevoam as planícies, onde a erva teima em não crescer e os pastos são palha seca, como seca é a chuva que não cai.
O céu povoa-se de aves que chegam para pernoitarem nos esteiros.

E nesta viagem em que a musica me é companheira e a estrada longa de chegada, a tua imagem recorta-se incerta na minha memória de cores e sorrisos de olhares onde me perco, sempre que te sei em cinzas de cansaço.



quinta-feira, janeiro 12

A pele que há em mim


Foto JFP


fazer deste chão, céu...onde em voos rasantes ao teu corpo de rei, te sussurro afagos de anjo. depois beber-te as palavras que suavizam os sentidos obrigatórios na direcção proibida do meu olhar. coloridas os lábios com que te desassossego as mãos perdidas no meu corpo de água. diáfana nudez de alma pura. diz-me amor, se és meu, com quantas letras se escreve a palavra com que me defino enquanto amparo as tuas lágrimas de resina? quantos traços são precisos para que o esboço com que me desenhas seja tatuado no teu abraço que tarda? és aroma primitivo, sabor a saudade escondida no meu peito, onde respiras devagar para que ninguém saiba que vives debaixo da minha pele. 




sábado, setembro 3

Azrael




Aos teus olhos marejados de pétalas



sou
noiva em flor



vale de lágrimas



cheia de graça




ave




garça




mariposa em flor descarnada



espera adiada



rendada



rendida perdida





a vida ao sabor do tempo em que as cerejas eram o vermelho da boca




bouquet



e as vitórias das lutas rebeldes quando o teu corpo se abria no meu




ao som da musica que compões com os teus dedos de pianista





solista



em seda preparada



nas manhãs submersas de palavras não ditas



escorridas a água



sangue suor sal amor





afasto-me em passo de dança



c.r.i.a.n.ç.a



sorriso____ de____ esperança





a mão de Deus na minha fronte


e


esvai-se a vida no sorriso que te deixo




memórias do que não tivemos



ampara-me na queda em que ascendo aos céus




sou raio de luz musica infinita




morte


sorte


cavalo alado


anjo


cinza e raiz


sou terra mãe árvore mulher


fui feliz.


sexta-feira, agosto 19

My Melody






anima-se o vento sob o teu andar deslizante

imperceptível a poeira do meu olhar

vacilante

enquanto me tomas nos braços

me tomas

em goles ávidos

num

trago

o

ventre rasgado em camuflagens de alma de anjo


tomas-me depois

d.e.v.a.g.a.r


num deguste próprio de um vintage porto

envelhecido em caves de ouro


(a)douro

o teu sorriso

com estas mãos pequenas de brincar à apanhada

calada

no beijo despido que te sopro

de coração partido em pedaços de papel


respirava-te em gotas de chamas


bebia-te as palavras irrequietas

vagabundas

na minha pele

onde ainda escreves discursos


p-a-r-t-i-t-u-r-a-s


musica que compõe(s) (n)o meu corpo

enroscado

nu

teu


melodia que sou

que somos

tu & eu.



quarta-feira, julho 27

O Canto do Cisne



Crisálidas dementes



-e-n-c-r-espadas



salientes no desespero da liberdade



rasgam-se véus de teias



murcham pétalas



ideias



veneno anil



sol e sal



lamento visceral



putrefacta a alma do poeta maldito.





Sou poema proibido



lago



rio esquecido



mar de lama afrodisíaca



sangue e suor



sou s.u.s.p.i.r.o



(e respiro)



onde te passeias



em voos rasantes



enquanto morro em ti.



quarta-feira, julho 6

L'opéra imaginaire





Rente ao chão


curvada pelo peso do teu amor


entoo cânticos celestiais


dedos riscam as paredes seculares


deixo um traço


passo a passo


de dança de ondas e marés


12 luas de Garbarek


insinuas-te lesto ingénuo e quase infantil


meu anjo


as madrugadas de Abril


habitam em nós em cada vitória que tentamos


vencer a insónia


viver a luta popular sem pedantismo intelectual


actual


a resiliência da juventude adormecida pelos nossos contos de fadas


e as florestas mágicas que percorro encerram mistérios que não desvendo


sorrio ao entardecer da idade com que me ensinas a experiência cáustica do teu existir atribulado


gostava de viver mais devagar


para ter tempo


de ler todos os livros


com que forro as paredes deste lar


pleno de musica e flores silvestres


com que me visto nos dias


em que me visitas no meu leito de amores guardados


aromas inventados


sabores proibidos


e


o teu corpo no meu


como se fosse sempre a primeira vez.



sexta-feira, julho 1

Éter








Adocicado o segredo


aromatizado de ácido




em suaves doses de ópio


deito-me sem saber se acordo


não adormeço


a dor




c


a


i




o sol


em tapetes de flores vivas


secas


as lágrimas doces de Verão


ser


transparentes


líquidas e quentes




áspero o lençol que me cobre de morte




embalo palavras


esqueço


rostos




ofereço




mariposas em casulos de seda




meu amor de madrugadas violetas




cem cadernos mil canetas


manuscrito o diário


debruado a tinta da china


onde


me encerro.


domingo, maio 1

While My Guitar Gently Weeps ou uma açucena branca para ti, mãe




Mais um dia igual a tantos, em que o teu olhar se perde por lugares longínquos, restando no meu peito o calor do teu colo, nos carinhos que já não sei.




Consigo por vezes, chorar-te quando te lembro (eu que nunca te esqueço) e ainda bem, porque corria o risco de me afogar no grito de dor que me sufoca a garganta, por não te poder chamar, gritar "mãe", só em surdina, só para mim, que sei que me ouves, porque estás tão dentro de mim, que não te consigo encontrar cá fora.




Onde o mundo ameaça mudanças que não entenderias, mas às quais sorririas, compalcente e dócil, sempre na esperança e crente que "Deus escreve direito por linhas tortas". Será?




Revejo-te na minha filha e hoje , no primeiro dia (de tantos outros que adivinho) que passo loge dela, sinto-me perdida embora tente sorrir contagiada pela felicidade dos outros que comemoram mais um dia de amor, que são todos os dias, num cliché que me dá tanto geito para resumir emoções. Sem as reduzir.




E assim, me solto, a ti e ao mundo, assim me declaro em publico, a ti, que levaste tanto de mim, quando partiste. Deixaste-me o suficiente para eu saber ser feliz, mesmo sem ti.




Já não sei o que te diga em palavras o que converso contigo, em pensamento, em cada momento que respiro. Exagero, pensam os que ainda têm as mães ao lado e que as podem levar hoje a um restaurante mais sofisticado e passearem numa cumplicidade de regresso à infância, especialmente hoje, porque o tempo não lhes dá tempo, para que seja todos os dias.




E eu aqui, a pensar-te como te penso todos os dias, a aproveitar-me das palavras que solto aos mesmo tempo que as lágrimas, a tentar não me esquecer do teu rosto, a sentir o teu toque e o teu olhar no meu futuro que construías em cada instante, sem tréguas, mulher guerreira, de ternura e doçura com que impregnavas os dias, mesmo os mais difíceis.




Apesar do pai ter partido há pouco tempo, sem avisar, é a tua falta que mais sinto, que sempre senti. Mesmo sabendo que me acompanhas os gestos e me orientas os passos, quando me sinto perdida dentro de mim, ao tentar encontar-te, num simples sorriso que me senta no teu colo com sabor a paz.




Até já. Vou tentar levar-te a tua flor preferida.


domingo, abril 10

F(r)IO de SAL











Diz-me









se souberes









de que cor são os lençóis de linho lavrado a son(h)os









das noites dançantes, cúmplices de nevoeiros









em que as lágrimas toldam as imagens já t(r)emidas









casas de alpendres de madeira com o piano mudo no canto que não entoas









sedas de frio das fitas das bailarinas

















Diz-me









quantas sombras do teu corpo se inclinam sobre o meu









em silêncios que mesmo assim, despertam curiosidades alheias









e sorrisos cúmplices de vizinhas amarguradas pela solidão

















Diz-me









porque é firme a minha carne que insistes em tatuar com o teu olhar









a tinta permanente que fixa as pupilas à cor e pólens a preto e branco









em arrepios de vida, pássaros errantes, lua amaciada









porque é intensa a memória que não te deixa partir









mesmo nos dias em que a boca sabe a sangue de tanto gritar o teu nome









nas noite em que solto gemidos noutro corpo que não o teu.

















Diz-me









se souberes









porque me espreitas sem me chamares









quando passo tardes à janela das árvores que salvo de serem secas por animaizinhos que não vês









porque me recordas em lágrimas, sempre e antes que a noite chegue,









no lusco fusco de retratos a sépia

















e me envolves no manto que é o nosso casulo (outrora edredon de algodão)









até ficarmos sem ar e nos resgatarmos de nós









numa solidão









onde não cabe a vida sem imaginação.



















quinta-feira, março 17

Lacrimosa















amo(R)









vida









tanto em golfadas de luz na pele dorida às vezes,









outras vezes leite doce sabor materno da infância.









retorno.









sentada









joelhos abraçados pelo futuro que sei.









vómito tóxico.sorriso perene.









árvore de musica em palavras que alegram o dia









nas noite em que o sono se divide em p.a.s.s.a.g.e.m.









marcante,









inovidável









beijo guardado









o tumor é (um)a incerteza baça









os pés de barro são de deuses esculpidos a sangue.









cal que o corpo fermenta. e ausenta.









b.e.i.j.o. sempre na distância dos sabores ácidos do tempo









oração de silêncios... tantos.









eremitas as curvas das calçadas,









plano cincunflexo. genuflectir a sombra. enfeitiçar o sorriso.









aguardo sem saber esperar.









lágrimas de um terço de pérolas.









via sacra dos despojados.









deuses que castigam a indiferença. pulsares de gritos de ave.









sono do profeta









mutilado.









tóxica a indiferença dos dias.retrato a sépia do bloco operatório.









biopsia indefinida. finita a esperança do prelúdio duma lágrima.









dor espasmo.









anestesia diletante.









caio sobre os espinhos das rosas que roubo nos jardins que inventa(S).









mármore o coração de sangue









estival.













Permaneço num cheiro a é.t.e.r.









efémero o sonho. requiem e__________acordo.

















és manto na alma da cor das palavras. num refluxo de crisálidas,









manhãs submersas em leitos velados.













Absorves-me em fluídos fugazes.









Esqueço-te num adeus de olhares.









Transpiras-me num cântico final.

















E é noite de lua cheia.





sexta-feira, março 4

Clarence Greenwood (ou como o azul pode ser verde se olharmos ao contrário)










alimento-me de notas soltas













nas manhãs em que as primaveras são eternas pétalas de cetim









por entre os grãos de areia













(d)os dedos das mãos que já não são













sorrisos













e musicas que me exigem









não sei que afagos

















corpo firme pelas lembranças

















caminho descalça sobre corais









princípio do deserto de lilases









água de olhares cheios













alma nobre









em rugas vi(vi)das

















tocas-me pianissimo









na distância (em) que mantenho









aceso o peito









incandescente de canções





















desliga-se o cérebro









e









a memória esquece-me.