domingo, julho 22

Voo



Trago as pestanas carregadas de sal
com que adoço o teu olhar
de sede
da alvura da minha pele
quando me curvo para saborear a polpa da tua
seda
de rosto escanhoado pela brisa do mar que te está longe
______________eu
curvo-me________
_________para que o sumo não me escorra pelos seios nus
sabendo que é o teu corpo que degusto
com
sofreguidão
curvada
a tentar tocar-te a alma
num gesto de nem sim nem não.

quarta-feira, junho 27

Guilty Kisses


Fazes-me tranças com papoilas neste cabelo cor de espigas maduras, neste cabelo onde os teus dedos são barcos à deriva por rotas sempre conhecidas, a pele tisnada de encontro à minha mais branca, encostada ao meu peito a tua boca calada por beijos meus e silêncios que insistes em manter, resistindo à vontade do beijo apetecido e quase roubado, sentido de sabor a romãs cor dos meus lábios que te esquecem dentro de mim, que te buscam insistentes e trémulos da distância que nunca te afastou, mesmo sabendo que não mais estaremos juntos, porque a noite é longa e a morte espreita.

Desfaço as tranças, guardo as papoilas no meu caderno de capa negra, caderno cheio de palavras que não dizes, porque és maior que o sonho de te voltar a ter, porque sonho que és meu e não és de ninguém, como este cabelo, que já não é o meu e que me dói na queda, na perda de o ter, como o livro que me deste, em segredo, onde encerro todas as palavras (que não disseste) junto a todas as papoilas que me deixaste nos cabelos, mesmo quando os campos eram apenas terra sem cultivo e nas minhas mãos nasciam searas de trigo com que sacio a fome de ti, num beijo proibido.