sábado, dezembro 7

Nudez



Amendoeiras em flor
pétalas
em neve nu meu corpo
nu
meu olhar de mel
nu
desacerto dos passos
de dança
ausente
carente
a música
do meu peito
nu
beijo esquecido
nu
lugar vazio
que invento em cada madrugada
jardim proibido
desfolhada
a
neve
que
c
a
i

sobre a memória do espelho que não sei
(atravessei?)
do lado de cá, de lá.

Onde estarei?

Nua
despida de amargura.

Alma quente
neve tremente
o corpo
nu

deserto
de nós cegos
cem laços de ternura.

sábado, novembro 2

So in love



Suspiro-te em tons outonais, quando passas de mansinho esgueirando-te no tempo, os olhos brilhantes pelos beijos roubados, ansiados na distância, tocando ao de leve as pedras da calçada portuguesa, nos dias em que não estamos juntos, a voz de barítono em jogos de sorte que o azar perde, mãos de música que me sangram a língua sempre que o quarto vazio de um hotel é invisível ao sentir do coração esvaído, seiva e olhar escondido, corpo a vibrar. Quente.

Respiro-te no óbvio que evito em deleite de rio bravo a arder devagar, como esta febre esquecida nos lábios escondidos nos cantos das bocas ávidas de perfumes, que são cheiro, mais que aroma, cheiro dos corpos suados de mel e sal. Frio.

Absorvo-te então numa felicidade suave e ritmada que ondulo com os gestos que talvez já não reconheças, nesta certeza de paixão de primeiro instante, paralisando o momento. Morno.


Beijou-lhe as costas. Depois os ombros nus. Só depois a tomou…


quarta-feira, setembro 25

Blood on the rooftops




afogo um soluço na mão que não te dou. olhares que se encontram quando os lábios se esmagam. os teus nos meus, ou nos gestos que se insinuam _________________ escondidos, mordidos. salpicados de sangue, sabor a vermelho quente. de língua. suave e húmida em beijonocéudaboca. ou simples aflorar. perfume de lágrima. seiva ardente. fechada a boca cativa do gostar. parado o corpo. numa angústia de cor antiga.

brilho de iris incandescente __________________ tranco-me por dentro numa tentativa de não. filamento em corrente de ouro. sou lua. sou tua. sou fuga e solidão.

reconheces-me [N]a pele firme onde te demoras. recantos perdidos ou engolidos pela pressa de prazer. dar e receber. música clássica, canção de_Verão. cântico, afinação.  velocidade, perdição. anjo caído. amor erguido no cálice, em oração.

flutuante o meu coração vadio. jamais vazio. por vezes [de] frio.

e ____________ ainda és rio do meu [a]mar.

sexta-feira, agosto 9

Leite amargo



Por vezes és dor. Misturo-te nesse sangue leitoso que cura feridas de  lábios abertos.
Transfusões de sol e arrepios. Percorrendo estradas por onde transparece o desejo a derreter no asfalto acabado de secar. Divido-me ao meio, seduzida pelo proibido, volto a reconstruir-me, sou dobro da divisão. Um simples não e és figos em de_leite no meu peito.

A viagem a terminar e o tempo a inventar horas de cor.

Ofereces-me as tuas palavras e música num altar inquieto onde és piano atrevido, ofertado, mesmo sabendo do meu querer esquecer.
________________ e nos teus olhos as imagens do que não (me) podes ter..


Inundo-me de pele tatuada da tua cor. E sou pauta, página, folha, raiz________________________ do teu amor.

quarta-feira, junho 26

Água brava




fios de ouro que o olhar tece na dúvida que desce pelo corpo agora tisnado pelo sol do campo que a praia esquece.
aquece-me de novo nesse fogo singular em que me fazes acreditar que somos plural, nos arremessos de palavras proibidas nos momentos de entrega, troca e fuga. gemidos que são apetite, sede, fome e ardor.

bebo-te na fúria das tardes solidárias em que os dedos vagueiam entre letras e pele.

relembro-te num fascínio guardado num embrulho por oferecer. quantas canções te conheço, com quantas vozes se alimenta de música e cerejas a boca, com que me pintas os lábios rubros de febre de saudade?
a idade? dois algarismos que a matemática vai somando.
sonhando? lutando, remando, de encontro ao teu peito que ainda tem o aroma do meu perfume, quando um dia, por distracção, me aconcheguei no teu, num abraço de nem sim, nem não.

círculos escaldantes onde danço descalça, quando amanheces água pura de todas as fontes.

cabelo de espanto despenteado pelos teus dedos. os mesmos que me emprestas entre sussurros de solidão.

sexta-feira, abril 5

Amar(elo)


água que somos.

             músculos em permanente desafio.
 a poesia escorre pelas faces em lágrimas que desaguam no (a)mar_____elo de gentes.

    sei uma canção com que embalo os dias sem música.
            sei estas notas de p.i.a.n.o. 
    sei o meu coração re__________partido em lugares que nunca fui.
    sei o afogamento da alma em linhas curvas. cíclicas. helicoidais em sangue.
         as mãos e os olhares dos resistentes. 

 é assim para sempre.

       Lusco fusco amarELO meu peito encostado às janelas que insisto em manter fechadas à chuva da tua memória.  [Quem habita assim um corpo, possui por completo a alma do outro]

     Apenas o corpo é pedra quando não ousa. 
   e a alma pássaros que rendilham estrelas de olhares mansos. aventureiros     os medos que se espraiam nos corpos nus. 

       sim... fios de barba inlúcidos, porque ardilosos na sedução. grácil o sorriso com que me envolve no desejo de uma boa tarde.
    sempre a tempo. beijo de hipótese. 
    sentada a uma secretária que me despe... 

   ...soubesse eu inventar mariposas de corações famintos

e  
l
o
s

de

a
m
a
r


sole ed  rama


domingo, julho 22

Voo



Trago as pestanas carregadas de sal
com que adoço o teu olhar
de sede
da alvura da minha pele
quando me curvo para saborear a polpa da tua
seda
de rosto escanhoado pela brisa do mar que te está longe
______________eu
curvo-me________
_________para que o sumo não me escorra pelos seios nus
sabendo que é o teu corpo que degusto
com
sofreguidão
curvada
a tentar tocar-te a alma
num gesto de nem sim nem não.