Diz-me
se souberes
de que cor são os lençóis de linho lavrado a son(h)os
das noites dançantes, cúmplices de nevoeiros
em que as lágrimas toldam as imagens já t(r)emidas
casas de alpendres de madeira com o piano mudo no canto que não entoas
sedas de frio das fitas das bailarinas
Diz-me
quantas sombras do teu corpo se inclinam sobre o meu
em silêncios que mesmo assim, despertam curiosidades alheias
e sorrisos cúmplices de vizinhas amarguradas pela solidão
Diz-me
porque é firme a minha carne que insistes em tatuar com o teu olhar
a tinta permanente que fixa as pupilas à cor e pólens a preto e branco
em arrepios de vida, pássaros errantes, lua amaciada
porque é intensa a memória que não te deixa partir
mesmo nos dias em que a boca sabe a sangue de tanto gritar o teu nome
nas noite em que solto gemidos noutro corpo que não o teu.
Diz-me
se souberes
porque me espreitas sem me chamares
quando passo tardes à janela das árvores que salvo de serem secas por animaizinhos que não vês
porque me recordas em lágrimas, sempre e antes que a noite chegue,
no lusco fusco de retratos a sépia
e me envolves no manto que é o nosso casulo (outrora edredon de algodão)
até ficarmos sem ar e nos resgatarmos de nós
numa solidão
onde não cabe a vida sem imaginação.