Suspiro-te
em tons outonais, quando passas de mansinho esgueirando-te no tempo, os olhos
brilhantes pelos beijos roubados, ansiados na distância, tocando ao de leve as
pedras da calçada portuguesa, nos dias em que não estamos juntos, a voz de barítono
em jogos de sorte que o azar perde, mãos de música que me sangram a língua
sempre que o quarto vazio de um hotel é invisível ao sentir do coração esvaído,
seiva e olhar escondido, corpo a vibrar. Quente.
Respiro-te
no óbvio que evito em deleite de rio bravo a arder devagar, como esta febre
esquecida nos lábios escondidos nos cantos das bocas ávidas de perfumes, que
são cheiro, mais que aroma, cheiro dos corpos suados de mel e sal. Frio.
Absorvo-te
então numa felicidade suave e ritmada que ondulo com os gestos que talvez já
não reconheças, nesta certeza de paixão de primeiro instante, paralisando o
momento. Morno.
Beijou-lhe as costas.
Depois os ombros nus. Só depois a tomou…