sexta-feira, agosto 9

Leite amargo



Por vezes és dor. Misturo-te nesse sangue leitoso que cura feridas de  lábios abertos.
Transfusões de sol e arrepios. Percorrendo estradas por onde transparece o desejo a derreter no asfalto acabado de secar. Divido-me ao meio, seduzida pelo proibido, volto a reconstruir-me, sou dobro da divisão. Um simples não e és figos em de_leite no meu peito.

A viagem a terminar e o tempo a inventar horas de cor.

Ofereces-me as tuas palavras e música num altar inquieto onde és piano atrevido, ofertado, mesmo sabendo do meu querer esquecer.
________________ e nos teus olhos as imagens do que não (me) podes ter..


Inundo-me de pele tatuada da tua cor. E sou pauta, página, folha, raiz________________________ do teu amor.

quarta-feira, junho 26

Água brava




fios de ouro que o olhar tece na dúvida que desce pelo corpo agora tisnado pelo sol do campo que a praia esquece.
aquece-me de novo nesse fogo singular em que me fazes acreditar que somos plural, nos arremessos de palavras proibidas nos momentos de entrega, troca e fuga. gemidos que são apetite, sede, fome e ardor.

bebo-te na fúria das tardes solidárias em que os dedos vagueiam entre letras e pele.

relembro-te num fascínio guardado num embrulho por oferecer. quantas canções te conheço, com quantas vozes se alimenta de música e cerejas a boca, com que me pintas os lábios rubros de febre de saudade?
a idade? dois algarismos que a matemática vai somando.
sonhando? lutando, remando, de encontro ao teu peito que ainda tem o aroma do meu perfume, quando um dia, por distracção, me aconcheguei no teu, num abraço de nem sim, nem não.

círculos escaldantes onde danço descalça, quando amanheces água pura de todas as fontes.

cabelo de espanto despenteado pelos teus dedos. os mesmos que me emprestas entre sussurros de solidão.

sexta-feira, abril 5

Amar(elo)


água que somos.

             músculos em permanente desafio.
 a poesia escorre pelas faces em lágrimas que desaguam no (a)mar_____elo de gentes.

    sei uma canção com que embalo os dias sem música.
            sei estas notas de p.i.a.n.o. 
    sei o meu coração re__________partido em lugares que nunca fui.
    sei o afogamento da alma em linhas curvas. cíclicas. helicoidais em sangue.
         as mãos e os olhares dos resistentes. 

 é assim para sempre.

       Lusco fusco amarELO meu peito encostado às janelas que insisto em manter fechadas à chuva da tua memória.  [Quem habita assim um corpo, possui por completo a alma do outro]

     Apenas o corpo é pedra quando não ousa. 
   e a alma pássaros que rendilham estrelas de olhares mansos. aventureiros     os medos que se espraiam nos corpos nus. 

       sim... fios de barba inlúcidos, porque ardilosos na sedução. grácil o sorriso com que me envolve no desejo de uma boa tarde.
    sempre a tempo. beijo de hipótese. 
    sentada a uma secretária que me despe... 

   ...soubesse eu inventar mariposas de corações famintos

e  
l
o
s

de

a
m
a
r


sole ed  rama


domingo, julho 22

Voo



Trago as pestanas carregadas de sal
com que adoço o teu olhar
de sede
da alvura da minha pele
quando me curvo para saborear a polpa da tua
seda
de rosto escanhoado pela brisa do mar que te está longe
______________eu
curvo-me________
_________para que o sumo não me escorra pelos seios nus
sabendo que é o teu corpo que degusto
com
sofreguidão
curvada
a tentar tocar-te a alma
num gesto de nem sim nem não.

quarta-feira, junho 27

Guilty Kisses


Fazes-me tranças com papoilas neste cabelo cor de espigas maduras, neste cabelo onde os teus dedos são barcos à deriva por rotas sempre conhecidas, a pele tisnada de encontro à minha mais branca, encostada ao meu peito a tua boca calada por beijos meus e silêncios que insistes em manter, resistindo à vontade do beijo apetecido e quase roubado, sentido de sabor a romãs cor dos meus lábios que te esquecem dentro de mim, que te buscam insistentes e trémulos da distância que nunca te afastou, mesmo sabendo que não mais estaremos juntos, porque a noite é longa e a morte espreita.

Desfaço as tranças, guardo as papoilas no meu caderno de capa negra, caderno cheio de palavras que não dizes, porque és maior que o sonho de te voltar a ter, porque sonho que és meu e não és de ninguém, como este cabelo, que já não é o meu e que me dói na queda, na perda de o ter, como o livro que me deste, em segredo, onde encerro todas as palavras (que não disseste) junto a todas as papoilas que me deixaste nos cabelos, mesmo quando os campos eram apenas terra sem cultivo e nas minhas mãos nasciam searas de trigo com que sacio a fome de ti, num beijo proibido.

terça-feira, junho 19

Until We Bleed


debruças-me devagar sobre o parapeito da janela que me traz sons perfumados de nuvens com que me afastas o olhar caído na tua mão cheia de pétalas com que pestanejas sílabas estonteantes num rosário de ópio.

caminho descalça por entre as searas 
e as espigas acariciam o meu peito despido do teu corpo

grita-me baixinho sofismas que arredondem as metáforas que desprezas para que o dia seja céu e mar.
_____________________beijas-me no altar de pedra

e a música é extrema unção sempre que o amor é cor de água benta com que me soltas os cabelos enfermos despenteados e rebeldes ao vento do teu respirar.
(re)pousas em mim o cansaço dos dias inventados sempre que te prometo mais_________________e mais.


e me dou.


quarta-feira, maio 23

Branco


redescubro-te em cada virar de página em branco dos teus olhos onde dançam perguntas que não te posso responder sem que te desenhe um poema de saliva branca nas tuas costas másculas donde escorrem gotas brancas de paixão. rastos do licor abundante branco e almiscarado das palavras brancas de segredos que nãos são só nossos. traço(s) a preto e branco (de) melodias, agonias, sonhos e beijos a duas bocas a dois corpos de almas brancas de tentações vermelho fogo no branco dos lençóis onde o caminho é a entrada numa nova aventura branca de sete cores como as saias rodadas da saudade que trago no peito arredondado pelas tuas mãos brancas de sabedoria experiente de tanto que moldam os meus seios rijos de pele branca onde tacteias às cegas os contornos do meu corpo branco que te aguarda sem saber esperar nas noites em branco em que te espero sem dormir.