quarta-feira, junho 27

Guilty Kisses


Fazes-me tranças com papoilas neste cabelo cor de espigas maduras, neste cabelo onde os teus dedos são barcos à deriva por rotas sempre conhecidas, a pele tisnada de encontro à minha mais branca, encostada ao meu peito a tua boca calada por beijos meus e silêncios que insistes em manter, resistindo à vontade do beijo apetecido e quase roubado, sentido de sabor a romãs cor dos meus lábios que te esquecem dentro de mim, que te buscam insistentes e trémulos da distância que nunca te afastou, mesmo sabendo que não mais estaremos juntos, porque a noite é longa e a morte espreita.

Desfaço as tranças, guardo as papoilas no meu caderno de capa negra, caderno cheio de palavras que não dizes, porque és maior que o sonho de te voltar a ter, porque sonho que és meu e não és de ninguém, como este cabelo, que já não é o meu e que me dói na queda, na perda de o ter, como o livro que me deste, em segredo, onde encerro todas as palavras (que não disseste) junto a todas as papoilas que me deixaste nos cabelos, mesmo quando os campos eram apenas terra sem cultivo e nas minhas mãos nasciam searas de trigo com que sacio a fome de ti, num beijo proibido.

10 comentários:

Filipe Campos Melo disse...

uma sensibilidade (bela) que nos toca (com suavidade)
uma sensualidade (grená) que nos invade e nos toma (seduzidos)

enquanto
na demência das papoilas
no delírio das palavras
o verso se forma
como prosa em searas de trigo

Muito belo.

Bjo.

Manuel Veiga disse...

belo e suave testo - como o cetim vermelho das papoilas...

beijo

Maria João Mendes disse...

os beijos que dançam no coração
que são pensamento,

uma e outra vez, os beijos roubados
que nem sempre são dados
(mas na alma, são)

obrigada, pelas palavras doces que deixas da minha poesia, e pela musica linda!!

e também obrigada por escreves assim, e me fazeres imaginares corpos que se escondem e dançam, nas papoilas.

gosto muito da tua poesia,e de te ler!

Beijo

mfc disse...

E as papoilas cresciam à medida que a tua prosa poética se tornava cada vez mais docemente empolgada!

beijinhos,

Mar Arável disse...

Excelente

mesmo considerando
que não existem beijos proibidos

Anónimo disse...

As papoilas, entrecruzadas com as espigas de trigo do teu cabelo, as palavras ternas que abraçam todo o texto , o sentimento que esvoaça ,pelo correr o teu teclado...

Maria João Mendes disse...

os beijos que dançam no coração
que são pensamento,

uma e outra vez, os beijos roubados
que nem sempre são dados
(mas na alma, são)

Obrigada, pelas palavras doces que deixas na minha poesia e pela musica linda!!
E também obrigada por escreveres assim, me fazeres imaginar corpos que se escondem e dançam nas papoilas.
Gosto muito da tua poesia e de te ler!
Beijo
(não sei que se passou com o comentário anterior, lol. O erros, peço- te desculpa)

Estrela disse...

Texto esplendoroso,lindo, meigo.
Belíssimo!
Beijos!

Rita Carrapato disse...

... e tudo talvez por causa do beijo proibido, do encanto e da força que respiramos em qualquer proibição.

Mar Arável disse...

Os melhores beijos
são os proibidos

porque são os que beijam

de olhos fechados