domingo, janeiro 26

Mr. Blue Sky


visto-me de negro. porque há lutos que não sei fazer. e o azul sorri-me no atrevimento do veludo que é a tua memória.

sou vida enquanto te sentir sangue a pulsar no corpo, caminho que respiro, olhar que me leva a casa. florestas que me aguardam, algumas cinzentas, que antes foram fogo.

hoje tudo parece cinzento, os suspiros, os soluços, as tonturas e o dia. apesar do tom de alfazema da minha pele.

sucumbo ao cinzento alheio num verbo novo. perfumado dum veneno que vicia.
as palavras são a intemporalidade da alma, a crescer devagar. na magia das descobertas…

... recolho, escolho os livrinhos de capa negra, onde me escrevia por dentro e por fora  o cabelo ainda curto para entrançar e salpicar de fios dourados as tuas mão de príncipe.

o amor 

d
e
i
t
a
d
o
     numa espera ansiada para se curvar à passagem do meu olhar. que repousa agora.

rodopio em passos de uma dança interminável, sempre que a música preenche a cabeça com o invisível das memórias dos cheiros.

ousei inventar outras sonoridades com que saboreio os dias, em que estás longe.

à medida que caminho, escondo o cinzento dos quadros pintados à chuva, num apetite de caos e adormeço-me.


E antes que a noite chegue tens de ficar comigo.


sexta-feira, dezembro 27

So sensitive



pedras lascadas que nos hão-de cheirar a tempo de transpor todos os limites. preciosos. inequívocos. irrepetíveis & infinitos.

nesse trajecto em que apago dos meus lábios a sede onde morre a inocência dos primeiros rubores.

rubis. nU verde intenso do teu rosto que me fecha os olhos quando murmuras em sussurro, os meus nomes.

sou casca, pele, invólucro, adorno de forma que adormece no encanto dum perfume tacteado, em relevo, cujo paladar é do mesmo amor.

imagino que te alcanço num sabor de baunilha num entardecer crepuscular (só porque não gostas de lusco fusco)


_____________ penso-te meu e basta-me esta posse.

Tocou-lhe mansamente as pálpebras fechadas com os lábios abertos em flor.
Escondeu depois, o rosto nos seios que subiam ao ritmo dum barco à deriva em mar alto.


Só então lhe aqueceu outros beijos nos pulsos amarrados pela incerteza.

sábado, dezembro 7

La scultura





adormecia quase sempre nos momentos inabitáveis do teu sorriso

que tentava apagar, em vão, dos meus lábios

beliscados pela tua saliva que se enxugava segundo a segundo 

nesse rosário de memórias

arrancadas a ferros pelos círculos arredondados nas pontas de estrelas seduzidas pelo proibido _________________________________  que era saber-te o verde doce dos dias que ondulavam em vésperas de tempestades vazias

imortalizada pelo cinzel que me esculturava o colo virginal numa qualquer sala das caves de Belas Artes __________________ Lisboa era então ainda jovem
e o seu luar sempre tão sedutor ________________ suave morrer, quando em mim fixavas o teu olhar. e me tentavas beijar.

e renascer no teu sopro invisível às palavras cantantes do teu italiano siciliano, que eu fingia não entender.

então, dizias que eu podia descansar. e eu pousava o olhar no pedaço de pedra que havia de ter o meu sorriso. e tu dizias sei cosi bella . e eu corava. e tentavas em português amo-te. e eu envergonhada, indecisa, encadeada. mas tu continuavas ti amo hai capito?

e eu fugia...

tanto fugi, que acho que nunca levaste tanto tempo a concluir uma escultura.

(ainda hoje estou para saber, porque adoravas o meu nariz)

Nudez



Amendoeiras em flor
pétalas
em neve nu meu corpo
nu
meu olhar de mel
nu
desacerto dos passos
de dança
ausente
carente
a música
do meu peito
nu
beijo esquecido
nu
lugar vazio
que invento em cada madrugada
jardim proibido
desfolhada
a
neve
que
c
a
i

sobre a memória do espelho que não sei
(atravessei?)
do lado de cá, de lá.

Onde estarei?

Nua
despida de amargura.

Alma quente
neve tremente
o corpo
nu

deserto
de nós cegos
cem laços de ternura.

sábado, novembro 2

So in love



Suspiro-te em tons outonais, quando passas de mansinho esgueirando-te no tempo, os olhos brilhantes pelos beijos roubados, ansiados na distância, tocando ao de leve as pedras da calçada portuguesa, nos dias em que não estamos juntos, a voz de barítono em jogos de sorte que o azar perde, mãos de música que me sangram a língua sempre que o quarto vazio de um hotel é invisível ao sentir do coração esvaído, seiva e olhar escondido, corpo a vibrar. Quente.

Respiro-te no óbvio que evito em deleite de rio bravo a arder devagar, como esta febre esquecida nos lábios escondidos nos cantos das bocas ávidas de perfumes, que são cheiro, mais que aroma, cheiro dos corpos suados de mel e sal. Frio.

Absorvo-te então numa felicidade suave e ritmada que ondulo com os gestos que talvez já não reconheças, nesta certeza de paixão de primeiro instante, paralisando o momento. Morno.


Beijou-lhe as costas. Depois os ombros nus. Só depois a tomou…


quarta-feira, setembro 25

Blood on the rooftops




afogo um soluço na mão que não te dou. olhares que se encontram quando os lábios se esmagam. os teus nos meus, ou nos gestos que se insinuam _________________ escondidos, mordidos. salpicados de sangue, sabor a vermelho quente. de língua. suave e húmida em beijonocéudaboca. ou simples aflorar. perfume de lágrima. seiva ardente. fechada a boca cativa do gostar. parado o corpo. numa angústia de cor antiga.

brilho de iris incandescente __________________ tranco-me por dentro numa tentativa de não. filamento em corrente de ouro. sou lua. sou tua. sou fuga e solidão.

reconheces-me [N]a pele firme onde te demoras. recantos perdidos ou engolidos pela pressa de prazer. dar e receber. música clássica, canção de_Verão. cântico, afinação.  velocidade, perdição. anjo caído. amor erguido no cálice, em oração.

flutuante o meu coração vadio. jamais vazio. por vezes [de] frio.

e ____________ ainda és rio do meu [a]mar.

sexta-feira, agosto 9

Leite amargo



Por vezes és dor. Misturo-te nesse sangue leitoso que cura feridas de  lábios abertos.
Transfusões de sol e arrepios. Percorrendo estradas por onde transparece o desejo a derreter no asfalto acabado de secar. Divido-me ao meio, seduzida pelo proibido, volto a reconstruir-me, sou dobro da divisão. Um simples não e és figos em de_leite no meu peito.

A viagem a terminar e o tempo a inventar horas de cor.

Ofereces-me as tuas palavras e música num altar inquieto onde és piano atrevido, ofertado, mesmo sabendo do meu querer esquecer.
________________ e nos teus olhos as imagens do que não (me) podes ter..


Inundo-me de pele tatuada da tua cor. E sou pauta, página, folha, raiz________________________ do teu amor.