sexta-feira, abril 4

Guerra e(m) Paz





Escreve(r) notas soltas






páginas em branco






morangos doces






amoras silvestres






pranto






perdas de juízo










nublados






os



olhares



rectilíneos










portas fechadas






pedras marcadas










embalas-me na sedução que recusas










casulo de mariposa






airosa a ventania






com que rodas as pás dos moinhos












pão amassado sem sal






sem água






em lágrimas






doces












azevinho quente






terra ardente












molde de barro






em corpo torneado a frio












cântaro sem asa






brasa



nos



caminhos






meus






os






pés






em desalinho












com direcção sem sentido












soldado desconhecido






(meu)






amor perdido.

segunda-feira, março 10

PURPLE RAIN



apago dos meus lábios o silêncio ensurdecedor, das esquinas dos dias pardos e lamacentos onde se afogam esgares aflitos pelas dores de alma que me atormentam o olhar.

navego no teu corpo de ave infinita, sempre e mais além, enquanto espero as andorinhas que hão-de fazer ninhos no meu peito.

absorvo-me de metáforas numa oração de murmúrios sussurrados ao teu ouvido de mercador de Veneza. aponto-te o luar das nossas vidas que cai sobre as árvores que hibernam.

sorris-me numa névoa de aroma adocicado. e o cachimbo pousado…


fecho-me dentro de mim.

e de mãos dadas com a tua memória, parto com o anoitecer.

quinta-feira, fevereiro 6

PaRaBéNs



chegaste num dia qualquer sem encontro marcado olhar desviado pelo sol das tuas mãos de fauno com que ainda hoje teces mantas no meu corpo debruado a beijos mel. o sorriso depressa foi riso alto aberto e livre como o teu corpo na descoberta do meu amansado que floresce em gemidos...orvalho nas pétalas de veludo cor de fogo o meu corpo... sempre que me olhas e o mundo pára. pairo sobre mim, no abraço que me deves.

cresço em direcção ao azul infinito cor da minha alma. é branco o toque do teu corpo nu meu. há um barco no mar do teu olhar. direi então: na ponte que me leva a ti, o amor é a tua sombra em esplendor sobre o meu corpo poema que inventas a cada instante em que me fazes mulher.

céu de cor púrpura liquidambar cor do meu coração a floresta no peito uma bétula no olhar nas mãos uma canção. E na voz o poema em que sou tua.


O meu coração é um diospiro amadurecido pelo teu amor...

domingo, janeiro 26

Mr. Blue Sky


visto-me de negro. porque há lutos que não sei fazer. e o azul sorri-me no atrevimento do veludo que é a tua memória.

sou vida enquanto te sentir sangue a pulsar no corpo, caminho que respiro, olhar que me leva a casa. florestas que me aguardam, algumas cinzentas, que antes foram fogo.

hoje tudo parece cinzento, os suspiros, os soluços, as tonturas e o dia. apesar do tom de alfazema da minha pele.

sucumbo ao cinzento alheio num verbo novo. perfumado dum veneno que vicia.
as palavras são a intemporalidade da alma, a crescer devagar. na magia das descobertas…

... recolho, escolho os livrinhos de capa negra, onde me escrevia por dentro e por fora  o cabelo ainda curto para entrançar e salpicar de fios dourados as tuas mão de príncipe.

o amor 

d
e
i
t
a
d
o
     numa espera ansiada para se curvar à passagem do meu olhar. que repousa agora.

rodopio em passos de uma dança interminável, sempre que a música preenche a cabeça com o invisível das memórias dos cheiros.

ousei inventar outras sonoridades com que saboreio os dias, em que estás longe.

à medida que caminho, escondo o cinzento dos quadros pintados à chuva, num apetite de caos e adormeço-me.


E antes que a noite chegue tens de ficar comigo.


sexta-feira, dezembro 27

So sensitive



pedras lascadas que nos hão-de cheirar a tempo de transpor todos os limites. preciosos. inequívocos. irrepetíveis & infinitos.

nesse trajecto em que apago dos meus lábios a sede onde morre a inocência dos primeiros rubores.

rubis. nU verde intenso do teu rosto que me fecha os olhos quando murmuras em sussurro, os meus nomes.

sou casca, pele, invólucro, adorno de forma que adormece no encanto dum perfume tacteado, em relevo, cujo paladar é do mesmo amor.

imagino que te alcanço num sabor de baunilha num entardecer crepuscular (só porque não gostas de lusco fusco)


_____________ penso-te meu e basta-me esta posse.

Tocou-lhe mansamente as pálpebras fechadas com os lábios abertos em flor.
Escondeu depois, o rosto nos seios que subiam ao ritmo dum barco à deriva em mar alto.


Só então lhe aqueceu outros beijos nos pulsos amarrados pela incerteza.

sábado, dezembro 7

La scultura





adormecia quase sempre nos momentos inabitáveis do teu sorriso

que tentava apagar, em vão, dos meus lábios

beliscados pela tua saliva que se enxugava segundo a segundo 

nesse rosário de memórias

arrancadas a ferros pelos círculos arredondados nas pontas de estrelas seduzidas pelo proibido _________________________________  que era saber-te o verde doce dos dias que ondulavam em vésperas de tempestades vazias

imortalizada pelo cinzel que me esculturava o colo virginal numa qualquer sala das caves de Belas Artes __________________ Lisboa era então ainda jovem
e o seu luar sempre tão sedutor ________________ suave morrer, quando em mim fixavas o teu olhar. e me tentavas beijar.

e renascer no teu sopro invisível às palavras cantantes do teu italiano siciliano, que eu fingia não entender.

então, dizias que eu podia descansar. e eu pousava o olhar no pedaço de pedra que havia de ter o meu sorriso. e tu dizias sei cosi bella . e eu corava. e tentavas em português amo-te. e eu envergonhada, indecisa, encadeada. mas tu continuavas ti amo hai capito?

e eu fugia...

tanto fugi, que acho que nunca levaste tanto tempo a concluir uma escultura.

(ainda hoje estou para saber, porque adoravas o meu nariz)

Nudez



Amendoeiras em flor
pétalas
em neve nu meu corpo
nu
meu olhar de mel
nu
desacerto dos passos
de dança
ausente
carente
a música
do meu peito
nu
beijo esquecido
nu
lugar vazio
que invento em cada madrugada
jardim proibido
desfolhada
a
neve
que
c
a
i

sobre a memória do espelho que não sei
(atravessei?)
do lado de cá, de lá.

Onde estarei?

Nua
despida de amargura.

Alma quente
neve tremente
o corpo
nu

deserto
de nós cegos
cem laços de ternura.