sábado, setembro 3

Azrael




Aos teus olhos marejados de pétalas



sou
noiva em flor



vale de lágrimas



cheia de graça




ave




garça




mariposa em flor descarnada



espera adiada



rendada



rendida perdida





a vida ao sabor do tempo em que as cerejas eram o vermelho da boca




bouquet



e as vitórias das lutas rebeldes quando o teu corpo se abria no meu




ao som da musica que compões com os teus dedos de pianista





solista



em seda preparada



nas manhãs submersas de palavras não ditas



escorridas a água



sangue suor sal amor





afasto-me em passo de dança



c.r.i.a.n.ç.a



sorriso____ de____ esperança





a mão de Deus na minha fronte


e


esvai-se a vida no sorriso que te deixo




memórias do que não tivemos



ampara-me na queda em que ascendo aos céus




sou raio de luz musica infinita




morte


sorte


cavalo alado


anjo


cinza e raiz


sou terra mãe árvore mulher


fui feliz.


sexta-feira, agosto 19

My Melody






anima-se o vento sob o teu andar deslizante

imperceptível a poeira do meu olhar

vacilante

enquanto me tomas nos braços

me tomas

em goles ávidos

num

trago

o

ventre rasgado em camuflagens de alma de anjo


tomas-me depois

d.e.v.a.g.a.r


num deguste próprio de um vintage porto

envelhecido em caves de ouro


(a)douro

o teu sorriso

com estas mãos pequenas de brincar à apanhada

calada

no beijo despido que te sopro

de coração partido em pedaços de papel


respirava-te em gotas de chamas


bebia-te as palavras irrequietas

vagabundas

na minha pele

onde ainda escreves discursos


p-a-r-t-i-t-u-r-a-s


musica que compõe(s) (n)o meu corpo

enroscado

nu

teu


melodia que sou

que somos

tu & eu.



quarta-feira, julho 27

O Canto do Cisne



Crisálidas dementes



-e-n-c-r-espadas



salientes no desespero da liberdade



rasgam-se véus de teias



murcham pétalas



ideias



veneno anil



sol e sal



lamento visceral



putrefacta a alma do poeta maldito.





Sou poema proibido



lago



rio esquecido



mar de lama afrodisíaca



sangue e suor



sou s.u.s.p.i.r.o



(e respiro)



onde te passeias



em voos rasantes



enquanto morro em ti.



quarta-feira, julho 6

L'opéra imaginaire





Rente ao chão


curvada pelo peso do teu amor


entoo cânticos celestiais


dedos riscam as paredes seculares


deixo um traço


passo a passo


de dança de ondas e marés


12 luas de Garbarek


insinuas-te lesto ingénuo e quase infantil


meu anjo


as madrugadas de Abril


habitam em nós em cada vitória que tentamos


vencer a insónia


viver a luta popular sem pedantismo intelectual


actual


a resiliência da juventude adormecida pelos nossos contos de fadas


e as florestas mágicas que percorro encerram mistérios que não desvendo


sorrio ao entardecer da idade com que me ensinas a experiência cáustica do teu existir atribulado


gostava de viver mais devagar


para ter tempo


de ler todos os livros


com que forro as paredes deste lar


pleno de musica e flores silvestres


com que me visto nos dias


em que me visitas no meu leito de amores guardados


aromas inventados


sabores proibidos


e


o teu corpo no meu


como se fosse sempre a primeira vez.