terça-feira, março 19

Blood On The Rooftops


 

Atirou-se ao primeiro amor emergente e brilhante, num tom de cinza

previsível,

que a libertou, com palavras a transbordar.


Olhares des[a]botados


exilando-a daquele deserto, refúgio onde por vezes se vive, em terra firme

com abundância de água salgada  De tantas lágrimas.


quarta-feira, fevereiro 21

Fade Into You


 

Quedou-se de mãos estendidas, numa espera para que ele a tocasse. Levemente, incitando-a a sentir a ausência.

Ardente, o toque. Talvez tenha experimentado um leve tremor, arrepio de suposição. 

Refém de emoções, empurra o vento invisível de palavras cegas.

Silêncio que ensurdece.

E arrisca o voo.


terça-feira, janeiro 30

Sanctuary

 


 


Na quietude da cela, a noite revela um perfume estéril de agonia.

Sob o luar intenso,  sonhos vagueiam aprisionados na geometria de uma ilusão asséptica que persiste. E assim, na solidão das horas mortas, a vida é melodia incerta, entre as pétalas caídas. Desfolhadas e oferecidas com um esgar de dor. Rasgada.

Flores murchas que sussurram segredos de_ Verão. De nostalgia dos dias luminosos, inclinados sobre os cabelos dourados.


sexta-feira, janeiro 26

Lose Control


 

O encerramento de um tempo comedido.

Num esforço não planeado, a dor de ossos estilhaçados entre paredes florescentes por detrás de portas abertas ao acaso, a preservação da luz cinematográfica, do prazer amargo, indo além da ficção.

Então, um grão de ouro punk e feminino, a viajar pela arte ao som que a cidade transmite.

Acorda, acordes de agulhas injectadas em simultâneo, vibrações que se insinuam complacentes.

A anestesia não surte efeito. Levanta-se, agradece e deambula pelos corredores sem encontrar a saída.

 

sábado, dezembro 30

Special




Persigo o sonho por entre o arvoredo que se intensifica, a cada hesitação minha.

Sempre que o enfrento, selvagem e desafiante,  ele vem beijar-me as mãos e o rosto com cicatrizes, deixadas pelos ramos do meu realismo. Acaricio-lhe o lombo, a cabeça. Depois evapora-se.

Fico então aprisionada neste enigma cada vez mais complexo,  que vou codificando à medida que lhe nego o nome, surdamente e recuando sempre que o vislumbro ao longe.


segunda-feira, dezembro 4

Sanctuary


 

És-me letras desalinhadas em mãos trémulas, que por vezes prosseguem caminhos de amor. E escrevo.

Leio-te também. Ainda noutro dia, abri o livro e vi. Páginas de luxúria desenhada. Ansiada. Nesta surdez que passa. Em branco.

Imagino que não deixas escorrer as noites, filtradas de madrugada.

Poderia então conjugar-te verbo, enquanto me decifras.

Houve mesmo um dia em que o nosso olhar se apaixonou.


Se estivesses aqui agora, beijava-te.



segunda-feira, outubro 16

Same Old Scene



Choveu esta madrugada.

O tempo  espalhado na suave memória,

a entrelaçar lágrimas, sangue

e suores do âmago da noite escura

num nevoeiro,

onde se obscurecem tempestades.

 

Reitero os dias, os passos e as flores secas, nos livros que me ofereceste

Insisto incansável, a chamar-te. 

E a minha vontade é forte.


Das minhas mãos nascem pássaros e devaneios.



Então, dentro de mim, a tua voz que perdura.

Pura.
Rouca.
Musical.

sexta-feira, agosto 25

Johnny Johnny


 

Tocar-lhe o sorriso, como se o olhar queimasse

este Verão interminável

na fronteira entre o sentir e imaginar.

 

Corre para mim só por um dia,

a devorar esta sensação

de sermos só um, multiplicados, divididos, arrasados

entrelaçados em música, café, baunilha e roçar de pele.

 

Agora fá-lo. Falo. Levanto-me pelo silêncio suave, que ao escutares, te faça estremecer.