quarta-feira, junho 17

Victims over Victors




Diz!

E tu pedes-me silêncio. (Numa profanação das minhas saudades imensuráveis, quase dolorosas).

Espero-te.

Adivinho-te a chegar, com esta minha imaginação poderosa, que (me) torna  dormente, a mente.

Preciso de não te esquecer. Areias movediças, corpos ondulantes, sôfregos, perigosamente perto.

A pele é íman.

Vejo-te prismado em mim, a aniquilação é inevitável.

Sei o que quero. Caminho nas escolhas, passos que imagino nas areias do meu deserto,  e que me são oásis.

Calçar ou calcar a dor? Não a esmago, aprendo-a. Enfrento-a na liberdade de caminhar no sentido oposto.

E sou livre.

sábado, fevereiro 22

La Décadanse






e naquele dia o teu olhar foi o princípio do (a)mar desenfreado, em constantes encontros que eram sempre breves. ausência vítrea na capela isolada. corpos vestidos de desejos nus. almas cúmplices de olhares que beijam. fugazes. fugidios. audazes. por vezes incapazes. eutanásia cega de sentidos. morri de pé como os soldados cegos, enganados pela vitória que se misturava com o gás nas trincheiras.

trazes nos cabelos, o vento da minha liberdade inquieta. eco de gritos surdos ou agudos, já nem me lembro bem. apenas te sei devoluto. presente abandonado. não me vês, porque não me olhas. (sor)rio ondulante de secura extrema. árvore tombada de raiz nua. sou ave presa. sou pressa, sou poema que escreveste, na véspera daquele dia.

quinta-feira, outubro 31

Do you remember me?




Voltei a escrever sobre mim, nos cadernos antigos, de capa preta que guardava em lugares ocultos, e quase me comovo, por não reconhecer depois, a minha letra.


O vento que faz esvoaçar as folhas, traz um aroma a baunilha e os beijos que lá guardo, de sabores vários, imperceptíveis a todos os palatos, excepto ao meu. 

Dos teus lábios perfumados, tatuados na minha pele.

Quando me deixava morder ao de leve, sentindo-te. 

S a b e n d o - t e.

Degustando-te poro a poro, num envolvimento de almas nos corpos invisíveis.

Engolir-te em rajadas respiradas num sufoco de quase dor.

Toco-te

E trago comigo todos os aromas, sabores e cores que já foram.

quarta-feira, setembro 12

Saudade leva-me contigo




Amor inquietante no naufrágio dos dias.
Habito ainda, o coração dos pássaros que esvoaçam no teu peito.
Tardes inexoráveis de dedos imaculados, e que ainda me tocam os ombros nus.
Respiro(-te) o hálito, sorvo-te o beijo, absorvo-te inteiro.
Esqueço-me, lembro-te, nas horas breves de todos os dias.

Descanso nas memórias, e afugento a tristeza, com um gesto pálido de indiferença.

quinta-feira, abril 28

Pedra da Lua










em Dezembro

as chamas dos olhares gelaram

de fogo insano

as mãos dadas nos caminhos que jurámos percorrer


corpo a corpo de pele na pele


almas que vivem em suspenso nas tríades


notas soltas nos corações desabrigados dum Inverno inconsequente



invento-te em amores ilícitos


paixões eternas que duram enquanto a memória permanece

impura
a neve
do meu d.e.sc.o.n.t.e.n.t.a.m.e.n.t.o

morte anunciada no preludio duma lágrima

vida afugentada pelo sorriso do indigente

ardente a carne viva em primaveras de azul

amo-te quando te esqueço

a
p
a
i
x
o
n
a
d
a
m
e
n
t
e


enfraqueço a fragilidade dos espelhos


que já não (me) reflectem

ouso palavras


gestos r.e.p.e.t.i.d.o.s


afundo-me na terra

e

sou raíz.