Não foi o olhar que evitou o meu, foi o murmúrio de uma sedução adocicada, quando eu cheguei, atrasada, desencontrada, despenteada, meia perdida.
Envergonhada.
Não foi o olhar que evitou o meu, foi o murmúrio de uma sedução adocicada, quando eu cheguei, atrasada, desencontrada, despenteada, meia perdida.
Envergonhada.
Escuto o Outono em brandos olhares,
as minhas mãos nas tuas para sempre enquanto durar,
em sonho de inércia vencida,
ruas que são florestas que ousei percorrer
como aventura, despida de folhas.
E o amor é,
aroma vitória
química e física
onde as leis são troca de corpos e almas a tocar corações em
uníssono,
como esta corrida de letras sem fim,
ou nexo
numa catarse habitual de música e cores
reactivas
subversivas,
interacção crepuscular
bruma ousada,
espaços vazios,
quando chove em mim.
E eu sorrio
mesmo quando não sei de ti.
A meia luz do amanhecer confidencio-te silêncios lavrados
das incertezas inequívocas,
o aroma do voo linear dos pássaros,
no resgate infindável da memória com que te esqueço
[num]
devagar
vagamente doloroso,
como se as árvores me fizessem umbigo da terra _____________________
embalando-me a alma obscura
numa oferta de música,
e água fresca
no desalinho malicioso de fogo posto.
Foto: CM
Corpo aceso pelos teus dedos em orgásticos gemidos os olhares que se t(r)ocam.
Absorvo-te.
O deslizar das tuas mãos pelo solfejo da pele que desenha horizontes
_______________ inatingíveis na memória das tardes,
soletradas de trás para a frente para ninguém entender
___________ os desenhos que te faço sem entrelinhas de vida dispersa
e incompreensível,
quando fujo
de tudo à pressa sem olhar,
para ficar só
com a
imaginação
distante do [a]mar
que me basta.
de beijos ,
que não cabem na minha boca
de tanto os segurar,
em sombras iluminadas pela nudez da noite
caída a meus pés,
como a tua memória sombria,
imaculada,
lapidada,
pelo instante moldado pelo tempo
como corpo (s)em alma
errante,
o dia a dia de silêncio
em que viva,
morro.
Revolta nas ondas de um mar selvagem,
água que me quase fez morrer de tanta sede
que tenho de ti,
ou será o sal dum olhar distante
do silêncio constante,
que me paralisa,
muda
quieta
breve
e insondável,
inacessível o fruto proibido, doce, em suco bebido
de um trago
as faces coradas do sol (ou será dos teus pensamentos?)
a pele macia pela areia a polir instantes.
Devolve-me o meu aroma preferido
baunilha
adocicado pelo fumo dos meus cigarros novos,
numa cor líquida de paisagem, onde não te encontro.
Devolve-me o navegar impreciso
na deriva do voo das abelhas,
em que a vida se renova e o meu amor tropeça.
Sempre que se despediam, demoravam os olhares nos lábios de
cada um, como que a pedir beijos, antes roubados, salgados, como se a dor de os
mordiscar fosse doce. E imprescindível.
A chuva na terra, em tempestades de relâmpagos trovões e
apagões, deixa um cheiro a fecundação precoce.
Enlaça-a pela cintura, para que o vento não a leve, leve agitar
de sacudir de ombros. A decalcar-lhe a mão no braço, como marca de posse.
Ela tenta libertar-se numa quase dança, deixando que a chuva
lhe amarrote a túnica étnica que lhe cobre os tornozelos, e lhe faça escorrer
os cabelos e o olhar húmido de desejo escondido.
O hálito perfumado do novo tabaco de cachimbo, ficou colado
na boca dela, depois de lhe ter pressionado suavemente os lábios, como que a saborear-lhe
a memória dos sempre apetecidos.
Ela não diz nada, saboreia o perfume intenso, cerra os olhos
a tentar libertar-se deste amor.
Paladar de baunilha, tanto doce de aroma e cor. Amarelo.
A chuva há-de voltar, e entre trovões e relâmpagos, hás-de
beijar-me nesse regresso adiado, hás-de tomar-me num abraço rodopiante,
entornar-me de novo os sentidos, fingirmos que não somos indiferentes, quando
apenas estamos diferentes.