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quarta-feira, setembro 1

Cheiro a terra molhada


Foto CM
 

Sempre que se despediam, demoravam os olhares nos lábios de cada um, como que a pedir beijos, antes roubados, salgados, como se a dor de os mordiscar fosse doce. E imprescindível.

A chuva na terra, em tempestades de relâmpagos trovões e apagões, deixa um cheiro a fecundação precoce.

Enlaça-a pela cintura, para que o vento não a leve, leve agitar de sacudir de ombros. A decalcar-lhe a mão no braço, como marca de posse.

Ela tenta libertar-se numa quase dança, deixando que a chuva lhe amarrote a túnica étnica que lhe cobre os tornozelos, e lhe faça escorrer os cabelos e o olhar húmido de desejo escondido.

O hálito perfumado do novo tabaco de cachimbo, ficou colado na boca dela, depois de lhe ter pressionado suavemente os lábios, como que a saborear-lhe a memória dos sempre apetecidos.

Ela não diz nada, saboreia o perfume intenso, cerra os olhos a tentar libertar-se deste amor.

Paladar de baunilha, tanto doce de aroma e cor. Amarelo.

A chuva há-de voltar, e entre trovões e relâmpagos, hás-de beijar-me nesse regresso adiado, hás-de tomar-me num abraço rodopiante, entornar-me de novo os sentidos, fingirmos que não somos indiferentes, quando apenas estamos diferentes.