Sempre que se despediam, demoravam os olhares nos lábios de
cada um, como que a pedir beijos, antes roubados, salgados, como se a dor de os
mordiscar fosse doce. E imprescindível.
A chuva na terra, em tempestades de relâmpagos trovões e
apagões, deixa um cheiro a fecundação precoce.
Enlaça-a pela cintura, para que o vento não a leve, leve agitar
de sacudir de ombros. A decalcar-lhe a mão no braço, como marca de posse.
Ela tenta libertar-se numa quase dança, deixando que a chuva
lhe amarrote a túnica étnica que lhe cobre os tornozelos, e lhe faça escorrer
os cabelos e o olhar húmido de desejo escondido.
O hálito perfumado do novo tabaco de cachimbo, ficou colado
na boca dela, depois de lhe ter pressionado suavemente os lábios, como que a saborear-lhe
a memória dos sempre apetecidos.
Ela não diz nada, saboreia o perfume intenso, cerra os olhos
a tentar libertar-se deste amor.
Paladar de baunilha, tanto doce de aroma e cor. Amarelo.
A chuva há-de voltar, e entre trovões e relâmpagos, hás-de
beijar-me nesse regresso adiado, hás-de tomar-me num abraço rodopiante,
entornar-me de novo os sentidos, fingirmos que não somos indiferentes, quando
apenas estamos diferentes.