quarta-feira, setembro 12

Saudade leva-me contigo




Amor inquietante no naufrágio dos dias.
Habito ainda, o coração dos pássaros que esvoaçam no teu peito.
Tardes inexoráveis de dedos imaculados, e que ainda me tocam os ombros nus.
Respiro(-te) o hálito, sorvo-te o beijo, absorvo-te inteiro.
Esqueço-me, lembro-te, nas horas breves de todos os dias.

Descanso nas memórias, e afugento a tristeza, com um gesto pálido de indiferença.

quinta-feira, abril 28

Pedra da Lua










em Dezembro

as chamas dos olhares gelaram

de fogo insano

as mãos dadas nos caminhos que jurámos percorrer


corpo a corpo de pele na pele


almas que vivem em suspenso nas tríades


notas soltas nos corações desabrigados dum Inverno inconsequente



invento-te em amores ilícitos


paixões eternas que duram enquanto a memória permanece

impura
a neve
do meu d.e.sc.o.n.t.e.n.t.a.m.e.n.t.o

morte anunciada no preludio duma lágrima

vida afugentada pelo sorriso do indigente

ardente a carne viva em primaveras de azul

amo-te quando te esqueço

a
p
a
i
x
o
n
a
d
a
m
e
n
t
e


enfraqueço a fragilidade dos espelhos


que já não (me) reflectem

ouso palavras


gestos r.e.p.e.t.i.d.o.s


afundo-me na terra

e

sou raíz.

sábado, abril 2

Someone (exactly) Like You,


Não sei. Não sei como vou viver sem ti. Mais órfã que viúva, porque não morreste, nem nunca morrerás primeiro que eu. Não sei se sabes deste amor que não sabe ser.

Não sei quantas lágrimas aguento, não sei quantos beijos não te dei.
Não sei, não sei.

Abro a porta da igreja e desafio a obediência, de olhos vendados. A lembrar dias que não tivemos. Ensopados de história. E estórias. Tanto de muito.

E dizes-me que o importante é eu sentir-me bem. Sentirei, quando deixar de (te) sentir... 
...A primavera que tarda no teu olhar de música. 

Quando parti para o deserto, disseste-me… O que foi mesmo que escreveste? Devo ter guardado algures, nesse tempo nem imaginava que não eras de poemas e ainda hoje não sei se é um excerto, ou se era já a tua alma a tocar a minha. Não sei.


Desejava que ele a beijasse. E ela, de olhos abertos a ver o beijo…
… mas antes, de olhos nos olhos.

Depois de olhos fechados, na imaginação em que os beijos existem e na intensidade  que se adivinham todos aqueles que ainda não foram dados.


Se me amas[te]?

Não sei, não sei...

sábado, dezembro 26

Esqueço-me de respirar cada vez que me beijas



abro esse dia. na vontade de esquecer a distância.
descalço os teus passos a caminho do lodo. nesse caminho em que a lâmina te trespassou o peito de verde pinho. feito ninho. de aves loucas, opacas de sal. mar que me faz onda a rebentar aos teus pés de amo. senhor. espanto [a dor]. sempre te reconheci pelo reflexo de lua. cheia. apneia. encantado o tempo das romãs mais-doces-que-as-maçãs-que-me-descascavas.

meu olhar de lava.
lava o meu olhar.
lava 
leva.
abro os olhos.    
e____________________ fechas a memória da noite com os meus pulsos em sangue___________________ nas tuas mão de príncipe. 



domingo, abril 12

ConVento (ou a escolha de Ana)





milagre de flores num vestido branco

hábito

manchado

de sangue puro acontecer

eremita de desejos aprisionados

castos

em celibato virgem


i.n.v.o.l.u.n.t.á.r.i.o


o toque

nus cabelos dourados


coroas de rosas

sem espinhos


caminha descalça de mão dada com a dor


ermida da memória

onde o vento leva as promessas

palavras

na cor do santuário


sim, meu anjo amo-te em cascatas de notas musicais


sorris na distância dos quilómetros que não digo

fotografas monumentos que constróis em nossa honra


arquitecto de amores plurais

onde

sou singular.


As madrugadas são manhãs por acontecer.


Sorrio ao mar que me aguarda


escarpas rasgadas na descida sem retorno

danço ao som do eclipse lunar

solstício de verão a chegar


fecho os olhos, as mãos, a boca

neste caminhar

onde o meu corpo se abre em alma

para o teu entrar.




sexta-feira, fevereiro 6

I Don't Think About You Anymore But, I Don't Think About You Anyless




Abriu a carta, de olhos aguados e a pele gasta, encolheu os ombros, num estado de inquietação,  esperando a última hora.

Sumarentas marcas indeléveis em labirintos dissimulados, enroladas em destinos escritos, gemidos em vez de ser,  feitos pudores. Ou altares.

Deixou-se molhar pelos contornos de um  orvalho disforme, então fragmentos duma  serenidade ansiada, com todos os nadas inteiros, adornados na alma.


E naquela provocação, sedução, a espera era quieta, cristal infalível. 
E rendi-me, rendada.

Dói-me o coração, iluminam-se janelas num torpor imoral, a parecer poesia com aroma de cigarrilhas. 

Tenho a pele salgada de palavras desenhadas nos muros par[a]dos. Uns arrepios indiscretos, o lu[g]ar vazio.

I-m-a-g-i-n-o.

E enterro o tédio num gole de cerveja, com promessas dobradas em ladrilhos de luz néon.

Subitamente, a vida segue de mansinho.

segunda-feira, outubro 20

Sombras [reeditado]


Grisalha a febre da neve que tomba
em geada 
desgrenhada pelas noites de olheiras no corpo amachucado
violado pelas memórias invencíveis

lábios puros de aromas
de pele na pele
ácidas
as palavras

que despem o momento da partida

emoções divididas

r
e
p
a
r
t
i
d
a
s

hino ao amor entoado a cada gesto inacabado
suspenso o coração
galope apressado
beijo olvidado

lembras-me em noites que o dia não permitia

sussurras(-me) letras desordenadas

no meu peito

aberto

ao teu olhar

profundo como o mar

o (meu) amor

por inventar.