Se
me estenderes a mão, num sinal de perdão, eu até sou capaz de avançar.Mas o gesto
terá de ser teu,se o teu sentir assim o exigir,sem te deixares comandar pelo
racional.
Eu nem penso, ainda estou presa num desejo por assumir, em memórias de olhares trocados,
ainda sinto as tuas mãos próximas das minhas e o rubor de me adivinhares a não
te oferecer resistência e alguma vergonha a atrapalhar-me, ao lembrar a tua boca tão
perto da minha, quero pedir-te desculpa mas tu impedes qualquer som,tiras-me o fôlego. E o juízo.
Respiro-TE em ausências de momentos em que a luz difusa me
penetra como se a tua mão na minha fosse ainda o caminho. Lascivos os olhares
com que nos bebíamos (S)em pressas que transbordavam de silêncios contidos.
Procuras-ME em noites de Lua Cheia,quando me transformo em loba e te devoro em
reticências.
Sabes a pedras salgadas, a fumo de sobro e a flores silvestres, com que me debruas os seios de auréolas
rosas em bicos de espinhos. Soltas perfumes de cristais no mercúrio com que
iluminas as manhãs que transportamos ao colo,sem que ninguém saiba, em
segredo, ao mesmo tempo que me telefonas para dizeres: amo-te.
Finjo que te esqueço, quando o café arrefece o açucare o
chá de menta sabe a deserto na alma que tocas cada vez que me entoas canções e
me esperas na esquina onde mais ninguém passa, para não saberem deste amor
proibido, celebrado um dia por semana, todos os anos, mesmo hoje, quando o
cabelo adourado se desprende dos teus dedos e a barba embranquece as tardes de
pecado que não fomos.
Fazes amor comigo, como se fosse a ultima vez. E para
mim, é sempre a primeira, nas descobertas de centímetro a centímetro de ti, de
mim.
Eternizo-TE nos cãnticos que jamais escutarei.Fecho os
olhos, as pernas, os braços. Fecho-ME contigo dentro de mim e saio em busca de
nós, no passado que já não lembro.
Esqueço-me de ti recortando as memórias e os dedos_________________ de olhos fechados numa suave explosão de lembranças que são ruído na frequência modeladados eus que nos sorriem em desafio numa transparência animada pelo verbo que insisto em agitar.
O coração conta o sangue que me doas em sacrifício de demoras inabitáveiscom as cores pálidas do meu respirar em ferida sem mácula_______________________ inquieta a saliva que a boca trai. em suspiros ténues de madrugadas de Abril. cravos com que me perfumas a pele adocicada pela febre de viver.
sabes onde descobrir-me, enrolada em mim, sabes onde fico
presa,enredada em teares de seda pura,em sonhos devolutos e madrugadas de
abril vermelho,o mesmo das papoilas que baloiçam ao vento que insiste em
levar-me,nua, despida com ternura, de mãos cheias de chuva e pele alva de neve
azul.
a mesma com que me abraças à distância dum rio cor de mar e
musgo.
e então, sorrio à dor que ainda não é morte. talvez sorte.de principiante,mesmo repetente.ausente, dúvida latente. dívida carente.fermento,adubo, presente.
Dá-me a mão, senta-te comigo junto ao lago dos cisnes, que
perdura no bailado do meu olhar.
Dá-me a mão, enquanto percorremos a Marginal, ao som das tuas
escolhas que me cativaram. A tua mão esquerda no volante e a música acelerada
como o meu coração.
Dá-me a mão, sempre a direita, quando passeamos pelas
Avenidas e deixas nos passeios, aroma a baunilha e nos meus lábios, o sabor a cigarrilhas
(que agora fumo).
Lembra-te das palavras que moram nos livros, dança ao som das
canções que me ofereceste, e viaja até onde a imaginação te levar.
Dá-me a mão. E abriga-te comigo, aqui, comigo. Dentro no
meu peito. Nesta mistura de calor de pele, onde flutuo para além de ti.
Náufraga desse teu after shave inebriante, presa no teu
sorriso de olhos fechados.
A tua voz fere como a noite mais solitária, quando saio
para a rua deserta e danço ao ritmo da chuva.
Vislumbro-te ao longe, sem seres sombra ou apenas silhueta.
Então abrigo-me.E já não choro. Apenas reconheço a
simplicidade da imensidão.
Cântico final com(o) prata oculta, sa(n)gra(n)do o dia de expiação em que decido morrer, num abandono exacto em soluços incandescentes, esculpindo memórias despidas de aromas, apenas gravadas a fogo no peito desajeitado pelo horizonte longínquo, em que te sei ávido das minhas formas, como eu da tua alma.
Danço então, até o rubor das faces iluminar os jardins proibidos, onde te seduzo em troca da tua voz de anjo numa inquietude erótica e mortal, que é esta paixão faminta, numa cadência sôfrega e insaciável, como os amores distantes que ecoam nas cartas guardadas, amarrotadas e lançadas ao mar, ondulando até submergirem patéticas e solitárias (como todas as cartas de despedida da vida e dos amores que se despem) abandonados num labirinto de verbos inflamados de violetas desfeitas pelo beijo violento.
Saio assim de mim, a tentar inventar um novo silêncio que se estenda até à música, que será tudo o que levo, ao fechar-me comigo, trancando-me por dentro, na praia onde o piano descansa, elevando-me aos céus, para que saibas que é chôro, quando a chuva te refrescar o rosto cansado, por tanto que me procuras.