quarta-feira, novembro 17

Noite 1001


 

Cântico final com(o) prata oculta, sa(n)gra(n)do o dia de expiação em que decido morrer, num abandono exacto em soluços incandescentes, esculpindo memórias despidas de aromas, apenas gravadas a fogo no peito desajeitado pelo horizonte longínquo, em que te sei ávido das minhas formas, como eu da tua alma.
Danço então, até o rubor das faces iluminar os jardins proibidos, onde te seduzo em troca da tua voz de anjo numa inquietude erótica e mortal, que é esta paixão faminta, numa cadência sôfrega e insaciável, como os amores distantes que ecoam nas cartas guardadas, amarrotadas e lançadas ao mar, ondulando até submergirem patéticas e solitárias (como todas as cartas de despedida da vida e dos amores que se despem) abandonados num labirinto de verbos inflamados de violetas desfeitas pelo beijo violento.
Saio assim de mim, a tentar inventar um novo silêncio que se estenda até à música, que será tudo o que levo, ao fechar-me comigo, trancando-me por dentro, na praia onde o piano descansa, elevando-me aos céus, para que saibas que é chôro, quando a chuva te refrescar o rosto cansado, por tanto que me procuras.

2 comentários:

A.S. disse...

Ah! Deliciosos esses jardins proibidos onde desces,
numa indefinível volúpia, de veemências suaves
e sabores secretos, colhendo o prazer
na vertigem intensa de um suspiro!

Um beijo para ti!

L. Lopes disse...

Danço então, até o rubor das faces iluminar os jardins proibidos onde te seduzo em troca da tua voz de anjo numa inquietude erótica e mortal que é esta paixão faminta ... labirinto de verbos inflamados de violetas desfeitas pelo beijo violento.
E eis a excelência da escrita, numa dança de metáforas - qual delas a mais sedutora - conduzida magistralmente por quem vê a escrita como a partilha do outro eu que existe em todos nós.