terça-feira, julho 27

Puisque tu me vois d'en haut


 

Desfoco-me nesta inalação de sol

de água salgada e nudez milagrosa

 

O luar de agosto em julho

orgulho a rimar com saudade

 ou desgosto

Epifania contínua

esguia

esquiva

 

Num somatório de dias solitários

raras as tardes que não anoitecem

e me apunhalam

o ventre dorido de tanto parir dores

 

e eu

quase vazia de ternuras e

 

a-d-o-c-i-c-a-d-o-s

predicados

 

quase vazia de palavras

apenas a música que se insinua

ainda me habita

e este amor amassado pelo abraço distante.


domingo, julho 18

Fly by Night

 



Desenho-te nas ondas

com estes dedos de  marés vivas de espanto

a distância é o lugar onde a saudade se demora

(n)à flor dos lábios

 

o olhar inquieto de todas as interrogações

cem respostas

numa urgência infantil de toques de asas,

como a migração das almas

maceradas pelas cores

[ou beijos?]

 

sorri(s)o  sacro, quando te sinto em mim

i n e q u í v o c o,

como o perfume das manhãs iluminadas, quando chegas.


terça-feira, junho 15

Johnny & Mary

 


Escrevo-te

no (in)verso do poema onde a solidão de ti me habita,

tu estás lá (estás?)

e, no cetim de um leito que não mereço,

existe o vazio

do sorriso fechado

desenha(n)do no meu corpo pálido,

palavras rotineiras, sacramentais, vazias.

 

Sentada no banco da Avenida,

abrando o coração acelerado de memórias

hesito no caminho a seguir,

fecho-me por dentro

numa tentativa de verão tardio

nesta espera de abandono, porque nem sei se virás

olhar-me nos olhos e perdoar-me o carácter,

nesta escuridão de silêncio excessivo,

provocador e mastigóforo.

 

E sem insistência,

a noite tomba nas minhas mãos de ninhos vazios

suspiro, inspiro, respiro enfim.



domingo, junho 6

I'm Not In Love?

 



És tu? (Pura retórica)

Neguei tantas vezes o que parecia óbvio, que quando o sentimento rebentou no meu peito, receei terem passado os momentos certos.

Encaixo-me em ti, completo-me nas tuas frases, sou livre nos teus passos.

Amar é transpirar sal de lágrimas de riso, parar gestosGritar silêncios contidos nas músicas que me dedicas. Em poemas.

Hei-de lembrar-me sempre deles, até mesmo quando me esqueço de mim, e deambulo descalça pela noite, que afinal é dia por amanhecer.

Abraça a minha pele e deixa lá fora o mundo.

Vamos beber-nos.


terça-feira, março 9

One More Second

 

Foto: CM

Viajo anónima

na incerteza dos nossos olhares insuspeitos, 

canto, como que afogada em lágrimas

e desfaleço

faminta

da eternidade nas minhas mãos em concha na definitiva espera do teu corpo,

da ausência da alma 

nesta intrínseca urgência

que me tinge o olhar de um azul inventado,

como se fosse fácil

guardar o tormento do estridente som do silêncio.


sexta-feira, outubro 23

Calling Out





 


Esta fome sem nome (sede?)

onde te canto (conto?)

em encontros imaginários ,

de afagos e(m) sonho

e o meu corpo findável (suportado apenas por tanta paixão na alma)

a minha mão  a acenar-te, ao balcão do Cave

a minha face lívida, a  tentar acordar-te para uma última dança

num desassossego daquela especial música rock, alternativa, independentemente do momento

sempre a surpreender

(mas somente silêncio
ao cair de todas as tardes que se tornavam noites).

Pergunto-te: mais um copo?

Ignoras-me num desvio cobarde de olhar

Como se nunca tivéssemos sido

Mesmo quando assolados pela inquietude serena

De batimentos cardíacos em uníssono


Nada mais a dizer(-te)

Já não me importa que não venhas

o tempo apenas é (um enquadramento) 


sei que um dia, sentirás a minha falta

pois a partida está para breve

talvez então entendas

o fulgor do meu rosto escarlate apesar da palidez do meu corpo

sem vida

sem música

sem sangue. Sem gritar.


sábado, outubro 3

You'll Follow Me Down

 



Rendeu-se ao aroma homogêneo dos antissépticos. 

E no silêncio metálico da solidão, o prenúncio da falta de ar.

Precisa respirar o sol, mas só consegue absorver a ferrugem do luar de agosto. E já em outubro, esperando milagres. A própria imagem esbatida, desfocada no espelho.

A pele da alma é indescritivelmente doce. O corpo ascende ao céu.


Dor nos lábios, de tanto os fechar para não gritar.