terça-feira, fevereiro 22

This Woman



Respiro-TE em ausências de momentos em que a luz difusa me penetra como se a tua mão na minha fosse ainda o caminho. Lascivos os olhares com que nos bebíamos (S)em pressas que transbordavam de silêncios contidos. Procuras-ME em noites de Lua Cheia, quando me transformo em loba e te devoro em reticências. 

Sabes a pedras salgadas, a fumo de sobro e a flores silvestres, com que me debruas os seios de auréolas rosas em bicos de espinhos. Soltas perfumes de cristais no mercúrio com que iluminas as manhãs que transportamos ao colo, sem que ninguém saiba, em segredo, ao mesmo tempo que me telefonas para dizeres: amo-te.

Finjo que te esqueço, quando o café arrefece o açucar e o chá de menta sabe a deserto na alma que tocas cada vez que me entoas canções e me esperas na esquina onde mais ninguém passa, para não saberem deste amor proibido, celebrado um dia por semana, todos os anos, mesmo hoje, quando o cabelo adourado se desprende dos teus dedos e a barba embranquece as tardes de pecado que não fomos. 

Fazes amor comigo, como se fosse a ultima vez. E para mim, é sempre a primeira, nas descobertas de centímetro a centímetro de ti, de mim.

Eternizo-TE nos cãnticos que jamais escutarei. Fecho os olhos, as pernas, os braços. Fecho-ME contigo dentro de mim e saio em busca de nós, no passado que já não lembro.

quinta-feira, janeiro 20

SpIrAcLe



Esqueço-me de ti recortando as memórias e os  dedos_________________ de olhos fechados numa suave explosão de lembranças que são ruído na frequência modelada dos eus que nos sorriem em desafio numa transparência animada pelo verbo que insisto em agitar.

O coração conta o sangue que me doas em sacrifício de demoras inabitáveis com as cores pálidas do meu respirar em ferida sem mácula_______________________ inquieta a saliva que a boca trai. em suspiros ténues de madrugadas de Abril. cravos com que me perfumas a pele adocicada pela febre de viver.
Empresto o corpo à dor e atravesso o improvável.  

sexta-feira, dezembro 10

Noite 212

 

sabes onde descobrir-me, enrolada em mim, sabes onde fico presa, enredada em teares de seda pura, em sonhos devolutos e madrugadas de abril vermelho, o mesmo das papoilas que baloiçam ao vento que insiste em levar-me, nua, despida com ternura, de mãos cheias de chuva e pele alva de neve azul.

a mesma com que me abraças à distância dum rio cor de mar e musgo.

e então, sorrio à dor que ainda não é morte. talvez sorte. de principiante, mesmo repetente. ausente, dúvida latente. dívida carente. fermento, adubo, presente.

sexta-feira, novembro 19

Gallipoli


 

Sinto os teus dedos

num respirar do abraço 

beijo de sílaba

corpo arqueado,

em desejo solfejo melodia,

que continues a esperar-me todas as noites,

sempre que a chuva dança em mim 

nesta paixão desenfreada, 

que confundo com amor.

 

Delírios de primaveras maduras

as guerras dos sentidos,

eu entontecida

o teu olhar faminto,

segredo revelado

a sul, 

onde o sol é navio.

 

E a tua mão pousada no meu peito.

quinta-feira, novembro 18

Time to go


 

Dá-me a mão, senta-te comigo junto ao lago dos cisnes, que perdura no bailado do meu olhar.

Dá-me a mão, enquanto percorremos a Marginal, ao som das tuas escolhas que me cativaram. A tua mão esquerda no volante e a música acelerada como o meu coração.

Dá-me a mão, sempre a direita, quando passeamos pelas Avenidas e deixas nos passeios, aroma a baunilha e nos meus lábios, o sabor a cigarrilhas (que agora fumo).

Lembra-te das palavras que moram nos livros, dança ao som das canções que me ofereceste, e viaja até onde a imaginação te levar.

Dá-me a mão. E abriga-te comigo, aqui, comigo. Dentro no meu peito. Nesta mistura de calor de pele, onde flutuo para além de ti.

Náufraga desse teu after shave inebriante, presa no teu sorriso de olhos fechados.

A tua voz fere como a noite mais solitária, quando saio para a rua deserta e danço ao ritmo da chuva.

Vislumbro-te ao longe, sem seres sombra ou apenas silhueta.

 

Então abrigo-me. E já não choro. Apenas reconheço a simplicidade da imensidão.

quarta-feira, novembro 17

Noite 1001


 

Cântico final com(o) prata oculta, sa(n)gra(n)do o dia de expiação em que decido morrer, num abandono exacto em soluços incandescentes, esculpindo memórias despidas de aromas, apenas gravadas a fogo no peito desajeitado pelo horizonte longínquo, em que te sei ávido das minhas formas, como eu da tua alma.
Danço então, até o rubor das faces iluminar os jardins proibidos, onde te seduzo em troca da tua voz de anjo numa inquietude erótica e mortal, que é esta paixão faminta, numa cadência sôfrega e insaciável, como os amores distantes que ecoam nas cartas guardadas, amarrotadas e lançadas ao mar, ondulando até submergirem patéticas e solitárias (como todas as cartas de despedida da vida e dos amores que se despem) abandonados num labirinto de verbos inflamados de violetas desfeitas pelo beijo violento.
Saio assim de mim, a tentar inventar um novo silêncio que se estenda até à música, que será tudo o que levo, ao fechar-me comigo, trancando-me por dentro, na praia onde o piano descansa, elevando-me aos céus, para que saibas que é chôro, quando a chuva te refrescar o rosto cansado, por tanto que me procuras.

terça-feira, novembro 16

Wonder



Quero falar-te de um filme a preto & branco, em que fomos protagonistas, em tardes escaldantes de desejos ansiados.

Há tanto tempo, que nem sei se foi realidade ou ficção.

O meu peito albergava então, uma força indomável, uma sede dos teus lábios, que nunca saciei.

O teu olhar magnético prendia-me não só o olhar, mas também os gestos que sempre fluem para ti. Ainda agora.

Em mim mora agora o vazio da cidade, despida de ti.

Da tua memória, apenas as luzes de néon, numa espécie de vestígio, que se agitam numa quase musicalidade e me incitam, quase todas as noites, a descer para a rua, em busca de ti.