quinta-feira, janeiro 12
A pele que há em mim
sábado, setembro 3
Azrael
noiva em flor
sexta-feira, agosto 19
My Melody
quarta-feira, julho 27
O Canto do Cisne
Crisálidas dementes
-e-n-c-r-espadas
salientes no desespero da liberdade
rasgam-se véus de teias
murcham pétalas
ideias
veneno anil
sol e sal
lamento visceral
putrefacta a alma do poeta maldito.
Sou poema proibido
lago
rio esquecido
mar de lama afrodisíaca
sangue e suor
sou s.u.s.p.i.r.o
(e respiro)
onde te passeias
em voos rasantes
enquanto morro em ti.
quarta-feira, julho 6
L'opéra imaginaire
Rente ao chão
curvada pelo peso do teu amor
entoo cânticos celestiais
dedos riscam as paredes seculares
deixo um traço
passo a passo
de dança de ondas e marés
12 luas de Garbarek
insinuas-te lesto ingénuo e quase infantil
meu anjo
as madrugadas de Abril
habitam em nós em cada vitória que tentamos
vencer a insónia
viver a luta popular sem pedantismo intelectual
actual
a resiliência da juventude adormecida pelos nossos contos de fadas
e as florestas mágicas que percorro encerram mistérios que não desvendo
sorrio ao entardecer da idade com que me ensinas a experiência cáustica do teu existir atribulado
gostava de viver mais devagar
para ter tempo
de ler todos os livros
com que forro as paredes deste lar
pleno de musica e flores silvestres
com que me visto nos dias
em que me visitas no meu leito de amores guardados
aromas inventados
sabores proibidos
e
o teu corpo no meu
como se fosse sempre a primeira vez.
sexta-feira, julho 1
Éter
Adocicado o segredo
domingo, maio 1
While My Guitar Gently Weeps ou uma açucena branca para ti, mãe
domingo, abril 10
F(r)IO de SAL
Diz-me
se souberes
de que cor são os lençóis de linho lavrado a son(h)os
das noites dançantes, cúmplices de nevoeiros
em que as lágrimas toldam as imagens já t(r)emidas
casas de alpendres de madeira com o piano mudo no canto que não entoas
sedas de frio das fitas das bailarinas
Diz-me
quantas sombras do teu corpo se inclinam sobre o meu
em silêncios que mesmo assim, despertam curiosidades alheias
e sorrisos cúmplices de vizinhas amarguradas pela solidão
Diz-me
porque é firme a minha carne que insistes em tatuar com o teu olhar
a tinta permanente que fixa as pupilas à cor e pólens a preto e branco
em arrepios de vida, pássaros errantes, lua amaciada
porque é intensa a memória que não te deixa partir
mesmo nos dias em que a boca sabe a sangue de tanto gritar o teu nome
nas noite em que solto gemidos noutro corpo que não o teu.
Diz-me
se souberes
porque me espreitas sem me chamares
quando passo tardes à janela das árvores que salvo de serem secas por animaizinhos que não vês
porque me recordas em lágrimas, sempre e antes que a noite chegue,
no lusco fusco de retratos a sépia
e me envolves no manto que é o nosso casulo (outrora edredon de algodão)
até ficarmos sem ar e nos resgatarmos de nós
numa solidão
onde não cabe a vida sem imaginação.
quinta-feira, março 17
Lacrimosa
amo(R)
vida
tanto em golfadas de luz na pele dorida às vezes,
outras vezes leite doce sabor materno da infância.
retorno.
sentada
joelhos abraçados pelo futuro que sei.
vómito tóxico.sorriso perene.
árvore de musica em palavras que alegram o dia
nas noite em que o sono se divide em p.a.s.s.a.g.e.m.
marcante,
inovidável
beijo guardado
o tumor é (um)a incerteza baça
os pés de barro são de deuses esculpidos a sangue.
cal que o corpo fermenta. e ausenta.
b.e.i.j.o. sempre na distância dos sabores ácidos do tempo
oração de silêncios... tantos.
eremitas as curvas das calçadas,
plano cincunflexo. genuflectir a sombra. enfeitiçar o sorriso.
aguardo sem saber esperar.
lágrimas de um terço de pérolas.
via sacra dos despojados.
deuses que castigam a indiferença. pulsares de gritos de ave.
sono do profeta
mutilado.
tóxica a indiferença dos dias.retrato a sépia do bloco operatório.
biopsia indefinida. finita a esperança do prelúdio duma lágrima.
dor espasmo.
anestesia diletante.
caio sobre os espinhos das rosas que roubo nos jardins que inventa(S).
mármore o coração de sangue
estival.
Permaneço num cheiro a é.t.e.r.
efémero o sonho. requiem e__________acordo.
és manto na alma da cor das palavras. num refluxo de crisálidas,
manhãs submersas em leitos velados.
Absorves-me em fluídos fugazes.
Esqueço-te num adeus de olhares.
Transpiras-me num cântico final.
E é noite de lua cheia.
sexta-feira, março 4
Clarence Greenwood (ou como o azul pode ser verde se olharmos ao contrário)
alimento-me de notas soltas
nas manhãs em que as primaveras são eternas pétalas de cetim
por entre os grãos de areia
(d)os dedos das mãos que já não são
sorrisos
e musicas que me exigem
não sei que afagos
corpo firme pelas lembranças
caminho descalça sobre corais
princípio do deserto de lilases
água de olhares cheios
alma nobre
em rugas vi(vi)das
tocas-me pianissimo
na distância (em) que mantenho
aceso o peito
incandescente de canções
desliga-se o cérebro
e
a memória esquece-me.
domingo, maio 4
Minha querida mãe
Despertei com as palavras a sufocarem-me o olhar. Como acontece de cada vez que te lembro com mais intensidade. Porque sabes bem, que estás sempre comigo, sinto-te a presença e a protecção constante. E a maior dor é a falta do teu abraço, do teu contacto, do teu aroma a lilases silvestres (chegaste a saber que se tornaram as minhas flores preferidas?). A falta do teu olhar doce e um pouco triste (a tua neta herdou esse olhar). Mas o que mais falta me faz é o teu sorriso, esse sorriso que te vinha da alma, o sorriso que tinhas até quando te apetecia chorar. Esse sorriso de um amor imensurável e incondicional. Essa capacidade de amar que te tornou numa mulher admirável e inesquecível por todos os que te conheciam. Não sei de ninguém que não te adorasse. Até o pai, homem rígido e difícil na forma como manifesta as emoções, ainda te lembra como A Mulher, única e insubstituível, apesar das tentativas, porque não sabe viver sozinho.
E és única.
Fui ao baú onde guardo alguns dos teus pertences: as cartas que me escrevias, quando eu ia de férias para a tua aldeia, os postais, os recados que me deixavas de manhã, quando ias trabalhar, os postais que te escrevia no Dia da Mãe, o teu relógio, as tuas jóias, entre tantas outras coisas que intensificam a tua presença, em mim, comigo.
No mesmo baú, guardo os cadernos onde me tentei libertar em palavras, todas as tentativas de poemas que te escrevi.
Porque gostavas de me ler, continuo a escrever...
E hoje, mais um dia em que as lágrimas deslizam rápidas e quentes. Não pela tua memória, mas por não estares aqui. Por tudo o que não fizeste. Pelo teu sofrimento tão imerecido. Pela vontade inexpugnável que tinhas, de viver. Pela tua partida precoce, embora anunciada. Pela dor e raiva com que fiquei, por me teres deixado assim...
Pois nem imaginas o que levaste de mim, quando partiste.
Daqui a pouco, num tributo à importância que davas aos simbolismos, às tradições, vou-te visitar ao local, onde repousam os teus ossos, o que resta de ti em matéria. E, tentar encontrar a tua flor preferida, a açucena branca.Tem sido difícil, mas eu vou tentando.
Sempre que a minha (má) gestão do tempo me permitir, voltarei a este espaço, que vou construindo, de memórias.
Apenas porque há memórias que são mais do que isso. E porque sabes que, para mim, recordar não é viver (lembras-te das nossas discussões? De como ficavas assustada com os meus argumentos e a minha intempestiva rebeldia?). Pois recordar é apenas, existir. As memórias são importantes, fundamentais até, no nosso percurso de vida. Desde que não nos prendam ao passado, e nos deixem continuar a viagem das descobertas. De nós e dos outros.
Um beijo e até já. Vou à procura da tua flor. E esconder as lágrimas da minha família, que me conhece sempre alegre.
Nota: A tua neta, num gesto de puro amor por alguém que só conhece de fotografias e de conversas, fez uma tatuagem com a tua flor preferida.
Mãe
húmidos
de sal e
saudade.
Tenho saudades da minha Mãe
e do seu colo com sabor a paz.
O som espalha-se pela cidade
de néon
os passos
e os corpos.
Encerra-se o gesto
num tom de lilás
e anil
a melodia envolve
os sentidos
sem pressa
os passos
de cristal
o olhar.
A boca pêssego limão
o olhar morango mel
o corpo pétala branca
aroma
maçã mais doce
perfume laranja
e
então
uma palavra que não sei.
Regresso
vestida de negro
não luto
esta calma falsa
de sorrisos convenientes
este existir
sem ti Mãe.