domingo, abril 10

F(r)IO de SAL











Diz-me









se souberes









de que cor são os lençóis de linho lavrado a son(h)os









das noites dançantes, cúmplices de nevoeiros









em que as lágrimas toldam as imagens já t(r)emidas









casas de alpendres de madeira com o piano mudo no canto que não entoas









sedas de frio das fitas das bailarinas

















Diz-me









quantas sombras do teu corpo se inclinam sobre o meu









em silêncios que mesmo assim, despertam curiosidades alheias









e sorrisos cúmplices de vizinhas amarguradas pela solidão

















Diz-me









porque é firme a minha carne que insistes em tatuar com o teu olhar









a tinta permanente que fixa as pupilas à cor e pólens a preto e branco









em arrepios de vida, pássaros errantes, lua amaciada









porque é intensa a memória que não te deixa partir









mesmo nos dias em que a boca sabe a sangue de tanto gritar o teu nome









nas noite em que solto gemidos noutro corpo que não o teu.

















Diz-me









se souberes









porque me espreitas sem me chamares









quando passo tardes à janela das árvores que salvo de serem secas por animaizinhos que não vês









porque me recordas em lágrimas, sempre e antes que a noite chegue,









no lusco fusco de retratos a sépia

















e me envolves no manto que é o nosso casulo (outrora edredon de algodão)









até ficarmos sem ar e nos resgatarmos de nós









numa solidão









onde não cabe a vida sem imaginação.



















11 comentários:

Ana Coelho disse...

Intenso ete sentir...Diz-me é tantas vezes uma mera questão da mente que caí em boa poesia.

Beijos

mfc disse...

Que linda e intensa esta interrogação que sempre fazemos ao outro...!

M(im) disse...

Entrei nestas palavras e consegui ser um pouco da paixão que transmitem. Porque são sentimento puro. Sei que quando aqui venho me esperam bons momentos de leitura. Hoje desfrutei de uma fabulosa viagem. Obrigada!
Beijinho

Anónimo disse...

Continuas imparável ! Gosto imenso desta tua fase de escrita. É uma escrita limpa , onde aconchegamos os nossos sonhos.

Beijo meu
M.

Anónimo disse...

a vida cabe sempre em quem exala vida em cada poro

Canto da Boca disse...

Sinto-me incapaz de articular algo que possa acrescentar algo à beleza sem tamanho do seu poema, então deixo-te Clarice:

"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la".

Clarice Lispector e um beijo!

Mar Arável disse...

Porquê?

... se se se ...
talvez te contasse como se faz o pão

e os barcos partem sem marinheiros
rumo a inacreditáveis "destinos"
só pelo prazer de viajar
nas suas palavras
e estar sempre a partir
e a chegar
como se o mar não fosse mais que a cama onde se deitam os barcos

Gostei do seu texto

Manuel Veiga disse...

de uma dolência/ardência vibrante. como uma tatuagem de alma...

excelente poema

beijo

Anónimo disse...

se eu soubesse... dizia-te :)
mas eu sou a Mulher dos porquÊS :))

BEIJOS
adorei o chã (como sempre)

José Rui Fernandes disse...

Muito bem escrito, e nem faltou a presença do nemátodo!

Um beijo

zaratustra disse...

as tuas palavras
são da "cor" desse linho
alvo
puro
produzido por mãos
maviosas
belas.

Ah as palavras
as tuas palavras...


obrigado pelo poema
um beijo