domingo, julho 18

Fly by Night

 



Desenho-te nas ondas

com estes dedos de  marés vivas de espanto

a distância é o lugar onde a saudade se demora

(n)à flor dos lábios

 

o olhar inquieto de todas as interrogações

cem respostas

numa urgência infantil de toques de asas,

como a migração das almas

maceradas pelas cores

[ou beijos?]

 

sorri(s)o  sacro, quando te sinto em mim

i n e q u í v o c o,

como o perfume das manhãs iluminadas, quando chegas.


terça-feira, junho 15

Johnny & Mary

 


Escrevo-te

no (in)verso do poema onde a solidão de ti me habita,

tu estás lá (estás?)

e, no cetim de um leito que não mereço,

existe o vazio

do sorriso fechado

desenha(n)do no meu corpo pálido,

palavras rotineiras, sacramentais, vazias.

 

Sentada no banco da Avenida,

abrando o coração acelerado de memórias

hesito no caminho a seguir,

fecho-me por dentro

numa tentativa de verão tardio

nesta espera de abandono, porque nem sei se virás

olhar-me nos olhos e perdoar-me o carácter,

nesta escuridão de silêncio excessivo,

provocador e mastigóforo.

 

E sem insistência,

a noite tomba nas minhas mãos de ninhos vazios

suspiro, inspiro, respiro enfim.



domingo, junho 6

I'm Not In Love?

 



És tu? (Pura retórica)

Neguei tantas vezes o que parecia óbvio, que quando o sentimento rebentou no meu peito, receei terem passado os momentos certos.

Encaixo-me em ti, completo-me nas tuas frases, sou livre nos teus passos.

Amar é transpirar sal de lágrimas de riso, parar gestosGritar silêncios contidos nas músicas que me dedicas. Em poemas.

Hei-de lembrar-me sempre deles, até mesmo quando me esqueço de mim, e deambulo descalça pela noite, que afinal é dia por amanhecer.

Abraça a minha pele e deixa lá fora o mundo.

Vamos beber-nos.


terça-feira, março 9

One More Second

 

Foto: CM

Viajo anónima

na incerteza dos nossos olhares insuspeitos, 

canto, como que afogada em lágrimas

e desfaleço

faminta

da eternidade nas minhas mãos em concha na definitiva espera do teu corpo,

da ausência da alma 

nesta intrínseca urgência

que me tinge o olhar de um azul inventado,

como se fosse fácil

guardar o tormento do estridente som do silêncio.


sexta-feira, outubro 23

Calling Out





 


Esta fome sem nome (sede?)

onde te canto (conto?)

em encontros imaginários ,

de afagos e(m) sonho

e o meu corpo findável (suportado apenas por tanta paixão na alma)

a minha mão  a acenar-te, ao balcão do Cave

a minha face lívida, a  tentar acordar-te para uma última dança

num desassossego daquela especial música rock, alternativa, independentemente do momento

sempre a surpreender

(mas somente silêncio
ao cair de todas as tardes que se tornavam noites).

Pergunto-te: mais um copo?

Ignoras-me num desvio cobarde de olhar

Como se nunca tivéssemos sido

Mesmo quando assolados pela inquietude serena

De batimentos cardíacos em uníssono


Nada mais a dizer(-te)

Já não me importa que não venhas

o tempo apenas é (um enquadramento) 


sei que um dia, sentirás a minha falta

pois a partida está para breve

talvez então entendas

o fulgor do meu rosto escarlate apesar da palidez do meu corpo

sem vida

sem música

sem sangue. Sem gritar.


sábado, outubro 3

You'll Follow Me Down

 



Rendeu-se ao aroma homogêneo dos antissépticos. 

E no silêncio metálico da solidão, o prenúncio da falta de ar.

Precisa respirar o sol, mas só consegue absorver a ferrugem do luar de agosto. E já em outubro, esperando milagres. A própria imagem esbatida, desfocada no espelho.

A pele da alma é indescritivelmente doce. O corpo ascende ao céu.


Dor nos lábios, de tanto os fechar para não gritar.


quarta-feira, setembro 23

In the Capital

 

Perdeu a fome, esqueceu a sede e imagina apenas a boca dele a sorrir.

De saudade? 

Todos os dias, de olhos rasgados pelas feridas que não cicatrizam, se 

esvai em sangue, o corpo  dobrado em  náuseas violentas, dores internas vomitadas, num 

início  de viagem que a  transporta para outro universo. 

É de chumbo, a falsa sensação de leveza. A inconstância  dos passos levou-a até lá, ao lugar dos olhos húmidos, deixando-a ficar adormecida nas  memórias dos abraços. 

Tanto tempo. Tanto. E nem mesmo assim, tentou secar os olhos dela com as suas mãos de abandono de despedidas disfarçadas.

Naquele fim de tarde, ela finalmente  chorou, afAgando-o numa incerta precisão. 

Ficaram alguns minutos naquele contacto  visual, a trincar os cubos de gelo, mas era mais o vidro fino  do copo que ela sentia a entrar-lhe na boca, do que o líquido.

 Toco-te. 

Seiva arrepiada no toque das palavras. 

EU disse FICAAcho que TU não ouviste. 


Ficámos a tomar a nossa cerveja. Estupidamente gelada.

E mais nada. Nunca mais.



.

 

quarta-feira, junho 17

Victims over Victors




Diz!

E tu pedes-me silêncio. (Numa profanação das minhas saudades imensuráveis, quase dolorosas).

Espero-te.

Adivinho-te a chegar, com esta minha imaginação poderosa, que (me) torna  dormente, a mente.

Preciso de não te esquecer. Areias movediças, corpos ondulantes, sôfregos, perigosamente perto.

A pele é íman.

Vejo-te prismado em mim, a aniquilação é inevitável.

Sei o que quero. Caminho nas escolhas, passos que imagino nas areias do meu deserto,  e que me são oásis.

Calçar ou calcar a dor? Não a esmago, aprendo-a. Enfrento-a na liberdade de caminhar no sentido oposto.

E sou livre.