quarta-feira, setembro 23

In the Capital

 

Perdeu a fome, esqueceu a sede e imagina apenas a boca dele a sorrir.

De saudade? 

Todos os dias, de olhos rasgados pelas feridas que não cicatrizam, se 

esvai em sangue, o corpo  dobrado em  náuseas violentas, dores internas vomitadas, num 

início  de viagem que a  transporta para outro universo. 

É de chumbo, a falsa sensação de leveza. A inconstância  dos passos levou-a até lá, ao lugar dos olhos húmidos, deixando-a ficar adormecida nas  memórias dos abraços. 

Tanto tempo. Tanto. E nem mesmo assim, tentou secar os olhos dela com as suas mãos de abandono de despedidas disfarçadas.

Naquele fim de tarde, ela finalmente  chorou, afAgando-o numa incerta precisão. 

Ficaram alguns minutos naquele contacto  visual, a trincar os cubos de gelo, mas era mais o vidro fino  do copo que ela sentia a entrar-lhe na boca, do que o líquido.

 Toco-te. 

Seiva arrepiada no toque das palavras. 

EU disse FICAAcho que TU não ouviste. 


Ficámos a tomar a nossa cerveja. Estupidamente gelada.

E mais nada. Nunca mais.



.

 

4 comentários:

A.S. disse...

Apesar da cerveja estupidamente gelada,
um poema discreto acontecia,
as palavras saiam das mãos
e tocavam-se, ambiciosas e íntimas.
Eram às vezes fogo de um momento,
poema de um só instante...
outras vezes eram a mais intensa luz,
fogo onde tudo ardia.
E assim ia sendo poema dia a dia!...

Beijos

AnaMar (pseudónimo) disse...

A.S. obrigada, o teu comentário é um poema :-)
Beijinhos

Anónimo disse...

Nunca digas: nunca.

Anónimo disse...
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