quinta-feira, agosto 14

Sombra que o sol me dá...



Descobrir a cor da dor em náuseas que contorcem o corpo por dentro entre o ventre e o peito a arder. nas mãos uma canção muda. a surdez do teu olhar no meu que é cego desde que vomitei o último orgão.

Enrolada no vómito a morrer devagar, invento borboletas de asas pretas.

Sal que o mar bebe das lágrimas que [me] secam a palidez dos dedos em anéis de alianças cruéis.

Escondo o sol nas pálpebras beijadas pelas cigarrilhas. hálito a uísque velho, mais que antigo, assim a paixão que [me] desflora gestos ávidos de uma revolução esquecida.

Jogo de cabra-cega-de onde vens, em círculos tocando o ar bafejado a perfume de sexo tirânico.

Ordenas com um beijo, que me cale. O rio sagrado transborda. E a tua voz é afrodisíaco que as putas usam com os clientes que se [te] seguem.

(desvio o sentido na direcção oposta ao obrigatório e continuo a escrita sobre ti: ''Para te sentires dono de ti, gostas das putas como se fossem amantes submissas, sem a prisão emocional de teres que corresponder a afectos...)

segunda-feira, junho 23

Oração


morreu[-se] assim, aos poucos, como que  a respirá-lo nos dias sem mácula, sem aromas nem cores num beijo de encolher de ombros

olhou-a parada, anunciada. de pálpebras abertas ao vento, como quem chora. ou reza.

viu-o desenhado nas montanhas que lhe são corpo, tão seu…
…tão longe de si própria,  na imutabilidade dos dedos pálidos, macerados pelas dores sempre virgens. 

na flor do sorriso aberto à vontade, espreitou-lhe as palavras, desenhou-se no silêncio que a morte ia emudecendo, em surdina de verbos corrompidos pela desentendimento.

o tempo inquieto a secar a boca
louca
na extravagãncia excessiva de já não o escutar. nem falar.

tão só.

desde então, bebe-O  numa oferenda de domingos castos
                                    bastos os dias finitos em que navega o verão.

quarta-feira, abril 16

25 de Abril sempre...


De encontro ao teu beijo de lábios de espanto
esquecido no fundo do corpo ao relento,
em alma de gelo, onde um pecador é santo
acende uma chama num coração cinzento.

Escondido no peito, a revolta de outrora
explode em canções e cravos de Abril
o gesto, o olhar a revolução que demora
nesta democracia encapotada, de gente vil.

E eis que num gesto, recordo o teu sangue
a ferver-me na boca de tanto o gritar,
a tentar salvar-nos deste governo infame,
a salvaguardar direitos que nos querem tirar.

Liberdade, pão, paz e dignidade,
trabalho, saúde, educação
em oportunidades, a igualdade
e 25 de Abril  sempre, no coração.


segunda-feira, abril 7

O Vestido Branco




Corpo dourado, bamboleante, firme nos passos e nos pensamentos por adivinhar, enquanto caminha etérea, vaporosa e livre. Cintilante.



Uma frescura que emana do sorriso rubro. Assim as faces, pelos olhares que desperta. Olhares elogiosos vadios de desejo. Olhares de volúpia ansiada. Olhares de ver para lá do vestido branco. O corpo liberto de tudo, num despudor natural de alma renascida. O peito empinado num desafio constante.



Assim o vento que lhe toca os ombros nus numa transparência esvoaçante.
Pernas ágeis, torneadas pelo vestido rodado e solto.



Os cabelos da cor da pele, tingidos pelo mar de Sol em toques quentes de salpicos salgados , amorangados pelos beijos calientes de um Verão sem memórias.



(E é doce a espuma das maçãs que lhe despertam os sentidos. E é inebriante o perfume da música que lhe toca alma. E são suaves as mãos que a despem do vestido branco, num só gesto de despojo de noites de encantar.)



Então, deixa que o corpo se movimente nos ritmos que sabe de cor, mesmo os inventados em cada momento único, assim o homem que a veste de carícias nas madrugadas que são tardes todas as noites.



Mesmo em noites em que a Lua deixou de ser Cheia, iniciando a fase seguinte até o ciclo se completar.


sexta-feira, abril 4

Guerra e(m) Paz





Escreve(r) notas soltas






páginas em branco






morangos doces






amoras silvestres






pranto






perdas de juízo










nublados






os



olhares



rectilíneos










portas fechadas






pedras marcadas










embalas-me na sedução que recusas










casulo de mariposa






airosa a ventania






com que rodas as pás dos moinhos












pão amassado sem sal






sem água






em lágrimas






doces












azevinho quente






terra ardente












molde de barro






em corpo torneado a frio












cântaro sem asa






brasa



nos



caminhos






meus






os






pés






em desalinho












com direcção sem sentido












soldado desconhecido






(meu)






amor perdido.

segunda-feira, março 10

PURPLE RAIN



apago dos meus lábios o silêncio ensurdecedor, das esquinas dos dias pardos e lamacentos onde se afogam esgares aflitos pelas dores de alma que me atormentam o olhar.

navego no teu corpo de ave infinita, sempre e mais além, enquanto espero as andorinhas que hão-de fazer ninhos no meu peito.

absorvo-me de metáforas numa oração de murmúrios sussurrados ao teu ouvido de mercador de Veneza. aponto-te o luar das nossas vidas que cai sobre as árvores que hibernam.

sorris-me numa névoa de aroma adocicado. e o cachimbo pousado…


fecho-me dentro de mim.

e de mãos dadas com a tua memória, parto com o anoitecer.

quinta-feira, fevereiro 6

PaRaBéNs



chegaste num dia qualquer sem encontro marcado olhar desviado pelo sol das tuas mãos de fauno com que ainda hoje teces mantas no meu corpo debruado a beijos mel. o sorriso depressa foi riso alto aberto e livre como o teu corpo na descoberta do meu amansado que floresce em gemidos...orvalho nas pétalas de veludo cor de fogo o meu corpo... sempre que me olhas e o mundo pára. pairo sobre mim, no abraço que me deves.

cresço em direcção ao azul infinito cor da minha alma. é branco o toque do teu corpo nu meu. há um barco no mar do teu olhar. direi então: na ponte que me leva a ti, o amor é a tua sombra em esplendor sobre o meu corpo poema que inventas a cada instante em que me fazes mulher.

céu de cor púrpura liquidambar cor do meu coração a floresta no peito uma bétula no olhar nas mãos uma canção. E na voz o poema em que sou tua.


O meu coração é um diospiro amadurecido pelo teu amor...

domingo, janeiro 26

Mr. Blue Sky


visto-me de negro. porque há lutos que não sei fazer. e o azul sorri-me no atrevimento do veludo que é a tua memória.

sou vida enquanto te sentir sangue a pulsar no corpo, caminho que respiro, olhar que me leva a casa. florestas que me aguardam, algumas cinzentas, que antes foram fogo.

hoje tudo parece cinzento, os suspiros, os soluços, as tonturas e o dia. apesar do tom de alfazema da minha pele.

sucumbo ao cinzento alheio num verbo novo. perfumado dum veneno que vicia.
as palavras são a intemporalidade da alma, a crescer devagar. na magia das descobertas…

... recolho, escolho os livrinhos de capa negra, onde me escrevia por dentro e por fora  o cabelo ainda curto para entrançar e salpicar de fios dourados as tuas mão de príncipe.

o amor 

d
e
i
t
a
d
o
     numa espera ansiada para se curvar à passagem do meu olhar. que repousa agora.

rodopio em passos de uma dança interminável, sempre que a música preenche a cabeça com o invisível das memórias dos cheiros.

ousei inventar outras sonoridades com que saboreio os dias, em que estás longe.

à medida que caminho, escondo o cinzento dos quadros pintados à chuva, num apetite de caos e adormeço-me.


E antes que a noite chegue tens de ficar comigo.


sexta-feira, dezembro 27

So sensitive



pedras lascadas que nos hão-de cheirar a tempo de transpor todos os limites. preciosos. inequívocos. irrepetíveis & infinitos.

nesse trajecto em que apago dos meus lábios a sede onde morre a inocência dos primeiros rubores.

rubis. nU verde intenso do teu rosto que me fecha os olhos quando murmuras em sussurro, os meus nomes.

sou casca, pele, invólucro, adorno de forma que adormece no encanto dum perfume tacteado, em relevo, cujo paladar é do mesmo amor.

imagino que te alcanço num sabor de baunilha num entardecer crepuscular (só porque não gostas de lusco fusco)


_____________ penso-te meu e basta-me esta posse.

Tocou-lhe mansamente as pálpebras fechadas com os lábios abertos em flor.
Escondeu depois, o rosto nos seios que subiam ao ritmo dum barco à deriva em mar alto.


Só então lhe aqueceu outros beijos nos pulsos amarrados pela incerteza.

sábado, dezembro 7

La scultura





adormecia quase sempre nos momentos inabitáveis do teu sorriso

que tentava apagar, em vão, dos meus lábios

beliscados pela tua saliva que se enxugava segundo a segundo 

nesse rosário de memórias

arrancadas a ferros pelos círculos arredondados nas pontas de estrelas seduzidas pelo proibido _________________________________  que era saber-te o verde doce dos dias que ondulavam em vésperas de tempestades vazias

imortalizada pelo cinzel que me esculturava o colo virginal numa qualquer sala das caves de Belas Artes __________________ Lisboa era então ainda jovem
e o seu luar sempre tão sedutor ________________ suave morrer, quando em mim fixavas o teu olhar. e me tentavas beijar.

e renascer no teu sopro invisível às palavras cantantes do teu italiano siciliano, que eu fingia não entender.

então, dizias que eu podia descansar. e eu pousava o olhar no pedaço de pedra que havia de ter o meu sorriso. e tu dizias sei cosi bella . e eu corava. e tentavas em português amo-te. e eu envergonhada, indecisa, encadeada. mas tu continuavas ti amo hai capito?

e eu fugia...

tanto fugi, que acho que nunca levaste tanto tempo a concluir uma escultura.

(ainda hoje estou para saber, porque adoravas o meu nariz)

Nudez



Amendoeiras em flor
pétalas
em neve nu meu corpo
nu
meu olhar de mel
nu
desacerto dos passos
de dança
ausente
carente
a música
do meu peito
nu
beijo esquecido
nu
lugar vazio
que invento em cada madrugada
jardim proibido
desfolhada
a
neve
que
c
a
i

sobre a memória do espelho que não sei
(atravessei?)
do lado de cá, de lá.

Onde estarei?

Nua
despida de amargura.

Alma quente
neve tremente
o corpo
nu

deserto
de nós cegos
cem laços de ternura.

sábado, novembro 2

So in love



Suspiro-te em tons outonais, quando passas de mansinho esgueirando-te no tempo, os olhos brilhantes pelos beijos roubados, ansiados na distância, tocando ao de leve as pedras da calçada portuguesa, nos dias em que não estamos juntos, a voz de barítono em jogos de sorte que o azar perde, mãos de música que me sangram a língua sempre que o quarto vazio de um hotel é invisível ao sentir do coração esvaído, seiva e olhar escondido, corpo a vibrar. Quente.

Respiro-te no óbvio que evito em deleite de rio bravo a arder devagar, como esta febre esquecida nos lábios escondidos nos cantos das bocas ávidas de perfumes, que são cheiro, mais que aroma, cheiro dos corpos suados de mel e sal. Frio.

Absorvo-te então numa felicidade suave e ritmada que ondulo com os gestos que talvez já não reconheças, nesta certeza de paixão de primeiro instante, paralisando o momento. Morno.


Beijou-lhe as costas. Depois os ombros nus. Só depois a tomou…


quarta-feira, setembro 25

Blood on the rooftops




afogo um soluço na mão que não te dou. olhares que se encontram quando os lábios se esmagam. os teus nos meus, ou nos gestos que se insinuam _________________ escondidos, mordidos. salpicados de sangue, sabor a vermelho quente. de língua. suave e húmida em beijonocéudaboca. ou simples aflorar. perfume de lágrima. seiva ardente. fechada a boca cativa do gostar. parado o corpo. numa angústia de cor antiga.

brilho de iris incandescente __________________ tranco-me por dentro numa tentativa de não. filamento em corrente de ouro. sou lua. sou tua. sou fuga e solidão.

reconheces-me [N]a pele firme onde te demoras. recantos perdidos ou engolidos pela pressa de prazer. dar e receber. música clássica, canção de_Verão. cântico, afinação.  velocidade, perdição. anjo caído. amor erguido no cálice, em oração.

flutuante o meu coração vadio. jamais vazio. por vezes [de] frio.

e ____________ ainda és rio do meu [a]mar.

sexta-feira, agosto 9

Leite amargo



Por vezes és dor. Misturo-te nesse sangue leitoso que cura feridas de  lábios abertos.
Transfusões de sol e arrepios. Percorrendo estradas por onde transparece o desejo a derreter no asfalto acabado de secar. Divido-me ao meio, seduzida pelo proibido, volto a reconstruir-me, sou dobro da divisão. Um simples não e és figos em de_leite no meu peito.

A viagem a terminar e o tempo a inventar horas de cor.

Ofereces-me as tuas palavras e música num altar inquieto onde és piano atrevido, ofertado, mesmo sabendo do meu querer esquecer.
________________ e nos teus olhos as imagens do que não (me) podes ter..


Inundo-me de pele tatuada da tua cor. E sou pauta, página, folha, raiz________________________ do teu amor.

quarta-feira, junho 26

Água brava




fios de ouro que o olhar tece na dúvida que desce pelo corpo agora tisnado pelo sol do campo que a praia esquece.
aquece-me de novo nesse fogo singular em que me fazes acreditar que somos plural, nos arremessos de palavras proibidas nos momentos de entrega, troca e fuga. gemidos que são apetite, sede, fome e ardor.

bebo-te na fúria das tardes solidárias em que os dedos vagueiam entre letras e pele.

relembro-te num fascínio guardado num embrulho por oferecer. quantas canções te conheço, com quantas vozes se alimenta de música e cerejas a boca, com que me pintas os lábios rubros de febre de saudade?
a idade? dois algarismos que a matemática vai somando.
sonhando? lutando, remando, de encontro ao teu peito que ainda tem o aroma do meu perfume, quando um dia, por distracção, me aconcheguei no teu, num abraço de nem sim, nem não.

círculos escaldantes onde danço descalça, quando amanheces água pura de todas as fontes.

cabelo de espanto despenteado pelos teus dedos. os mesmos que me emprestas entre sussurros de solidão.

sexta-feira, abril 5

Amar(elo)


água que somos.

             músculos em permanente desafio.
 a poesia escorre pelas faces em lágrimas que desaguam no (a)mar_____elo de gentes.

    sei uma canção com que embalo os dias sem música.
            sei estas notas de p.i.a.n.o. 
    sei o meu coração re__________partido em lugares que nunca fui.
    sei o afogamento da alma em linhas curvas. cíclicas. helicoidais em sangue.
         as mãos e os olhares dos resistentes. 

 é assim para sempre.

       Lusco fusco amarELO meu peito encostado às janelas que insisto em manter fechadas à chuva da tua memória.  [Quem habita assim um corpo, possui por completo a alma do outro]

     Apenas o corpo é pedra quando não ousa. 
   e a alma pássaros que rendilham estrelas de olhares mansos. aventureiros     os medos que se espraiam nos corpos nus. 

       sim... fios de barba inlúcidos, porque ardilosos na sedução. grácil o sorriso com que me envolve no desejo de uma boa tarde.
    sempre a tempo. beijo de hipótese. 
    sentada a uma secretária que me despe... 

   ...soubesse eu inventar mariposas de corações famintos

e  
l
o
s

de

a
m
a
r


sole ed  rama


domingo, julho 22

Voo



Trago as pestanas carregadas de sal
com que adoço o teu olhar
de sede
da alvura da minha pele
quando me curvo para saborear a polpa da tua
seda
de rosto escanhoado pela brisa do mar que te está longe
______________eu
curvo-me________
_________para que o sumo não me escorra pelos seios nus
sabendo que é o teu corpo que degusto
com
sofreguidão
curvada
a tentar tocar-te a alma
num gesto de nem sim nem não.

quarta-feira, junho 27

Guilty Kisses


Fazes-me tranças com papoilas neste cabelo cor de espigas maduras, neste cabelo onde os teus dedos são barcos à deriva por rotas sempre conhecidas, a pele tisnada de encontro à minha mais branca, encostada ao meu peito a tua boca calada por beijos meus e silêncios que insistes em manter, resistindo à vontade do beijo apetecido e quase roubado, sentido de sabor a romãs cor dos meus lábios que te esquecem dentro de mim, que te buscam insistentes e trémulos da distância que nunca te afastou, mesmo sabendo que não mais estaremos juntos, porque a noite é longa e a morte espreita.

Desfaço as tranças, guardo as papoilas no meu caderno de capa negra, caderno cheio de palavras que não dizes, porque és maior que o sonho de te voltar a ter, porque sonho que és meu e não és de ninguém, como este cabelo, que já não é o meu e que me dói na queda, na perda de o ter, como o livro que me deste, em segredo, onde encerro todas as palavras (que não disseste) junto a todas as papoilas que me deixaste nos cabelos, mesmo quando os campos eram apenas terra sem cultivo e nas minhas mãos nasciam searas de trigo com que sacio a fome de ti, num beijo proibido.

terça-feira, junho 19

Until We Bleed


debruças-me devagar sobre o parapeito da janela que me traz sons perfumados de nuvens com que me afastas o olhar caído na tua mão cheia de pétalas com que pestanejas sílabas estonteantes num rosário de ópio.

caminho descalça por entre as searas 
e as espigas acariciam o meu peito despido do teu corpo

grita-me baixinho sofismas que arredondem as metáforas que desprezas para que o dia seja céu e mar.
_____________________beijas-me no altar de pedra

e a música é extrema unção sempre que o amor é cor de água benta com que me soltas os cabelos enfermos despenteados e rebeldes ao vento do teu respirar.
(re)pousas em mim o cansaço dos dias inventados sempre que te prometo mais_________________e mais.


e me dou.


quarta-feira, maio 23

Branco


redescubro-te em cada virar de página em branco dos teus olhos onde dançam perguntas que não te posso responder sem que te desenhe um poema de saliva branca nas tuas costas másculas donde escorrem gotas brancas de paixão. rastos do licor abundante branco e almiscarado das palavras brancas de segredos que nãos são só nossos. traço(s) a preto e branco (de) melodias, agonias, sonhos e beijos a duas bocas a dois corpos de almas brancas de tentações vermelho fogo no branco dos lençóis onde o caminho é a entrada numa nova aventura branca de sete cores como as saias rodadas da saudade que trago no peito arredondado pelas tuas mãos brancas de sabedoria experiente de tanto que moldam os meus seios rijos de pele branca onde tacteias às cegas os contornos do meu corpo branco que te aguarda sem saber esperar nas noites em branco em que te espero sem dormir.

sábado, maio 12

Azul


a distância de que fazes ausência deixa-me em sonhos onde entras espreitando-me nua à luz da lua cheia o teu sorriso azul com que me debilitas os sentidos dormentes os dedos nas minhas costas em cócegas delirando excitações na minha cama azul quando abro os lábios ao teu olhar azul que me penetra a pele de seda tingida de azul céu para onde voo direita à casa de música que guardas junto ao peito numa caixa de cristal azul de palavras ternas e cintilantes de uma provocação azul quando chegas ofegante da corrida que é o percurso do gelo no meu corpo e azul a alma que me foge desvairada e louca azul sempre azul cada vez que te penso e te sei dia lago rio mar encharcado de desejo azul nas nuvens claras das manhãs em que me adormeces com a tua voz rouca azul de saliva respirada em suspenso azul o livro que ainda não te dei porque não sabes de mim em ti.

quarta-feira, abril 25

Vermelho(s)



vermelhos os passos que te conduziram na vida ao encontro de nós. cegos de amor. por vezes dor desfolhada em lágrimas de repressão acesa. vermelhos os rios que desagu(av)am nos corações vagabundos. anarquistas vestidos de juventude, fonte de poder de querer e saber. descobrir mãos dadas de ternura. revolução de olhares, de corpos, de cravos. vermelhos. os caminhos de reencontros. vermelhos os ritos do pão que o diabo amassou. fome e guerra de corpos e almas famintas de liberdade. cravar as unhas nos rostos vermelhos pela felicidade interrompida por velhos ócios. vermelhos  a infância colorida de beijos. vermelhos no crescer a caminhar a teu lado, sabor de gritos vermelhos contra a P.I.D.E que quase te levava. luta em todos os tons de vermelho, mesmo quando a minha cor preferida é azul intenso da saudade que me deixaste, pai. e eu aqui de olhos fechados num choro vermelho.

sexta-feira, abril 13

Verde(s)





A galope num cavalo selvagem como o teu sabor. verde(s) olhares com que me tiras a roupa aguada de pressa. o desejo no canto da boca do corpo, sorriso de rio. vazio o  caminho de f(r)ios suores com que me vestes de ti. dou-te a mão. no saber do teu colo a minha flor que é mar. estrela cadente no teu peito em suspiros de sol. terra-mãe, fecunda num respirar de palavras interditas. dança-me meu amor, num rodopiar de valsa enquanto me tomas num tango de vida. a chegada suavizada pela vertigem que é sangue. sou liberdade conquistada segundo-a-segundo numa sedução de música à flor da pele. sou vida e morte. sul-norte. desvario de ti. em mim. sorte? 

sexta-feira, março 30

Cinza(s)...



Escuto-te a voz e a melodia nasce-me no peito no corpo que arrepia o ar de fogos nas serras por onde caminho descalça quando te penso água, quando te penso sumo, gelo a derreter-me contigo, quando te imagino a pensares-me mesmo quando não me telefonas, porque o tempo não chega para sequer pensares em ti. Enrosco-me na preguiça, contigo no meu corpo, mesmo a quilómetros de distância, em que o meu perfume apenas te inebria a imaginação do beijo aflorado numa sms.
Noites em que a saudade afogada num bar onde não bebo, me é pele, carne viva, em lume de desespero pela ausência.

Viajo no vento que desordena palavras num coração aceso pela duvida de saber de ti.

Bandos de cegonhas sobrevoam as planícies, onde a erva teima em não crescer e os pastos são palha seca, como seca é a chuva que não cai.
O céu povoa-se de aves que chegam para pernoitarem nos esteiros.

E nesta viagem em que a musica me é companheira e a estrada longa de chegada, a tua imagem recorta-se incerta na minha memória de cores e sorrisos de olhares onde me perco, sempre que te sei em cinzas de cansaço.