Ele viu-a passar, de mansinho. De olhos abertos ao lusco fusco do dia, como quem procura pela alma. Viu-a sair para as montanhas que lhe são vida, tão suas, tão longe de si, na imobilidade da pele pálida, massacrada pelas sombras virgens. Na flor do riso aberto ao desejo, ouviu-lhe as palavras, desenhou-a no silêncio que a morte ia por fim em surdina de verbos desencontrados. Em horas e minutos e segundos. O brilho dos corpos envenenados, palavras banais no silêncio perturbador. Sentou-se na soleira, esperando que ela regressasse.
Um chá no deserto
Um diário de letras de papel, recortadas no tempo...
quarta-feira, junho 26
Dream, Ivory
Ele viu-a passar, de mansinho. De olhos abertos ao lusco fusco do dia, como quem procura pela alma. Viu-a sair para as montanhas que lhe são vida, tão suas, tão longe de si, na imobilidade da pele pálida, massacrada pelas sombras virgens. Na flor do riso aberto ao desejo, ouviu-lhe as palavras, desenhou-a no silêncio que a morte ia por fim em surdina de verbos desencontrados. Em horas e minutos e segundos. O brilho dos corpos envenenados, palavras banais no silêncio perturbador. Sentou-se na soleira, esperando que ela regressasse.
sexta-feira, junho 14
Somewhere tonight
À porta do café, permanece [in]quieta, devassa a luz que lhe acende os sentidos.
Lábios gretados pelas palavras novas amordaçadas.
Memórias. São ainda assim as paixões agora com o cabelo deixado crescer, como nos anos 70 e 80.
Recua aos tempos em que os labirintos eram desafios com
destinos sem receios e a liberdade, a soma dos momentos.
Afaga a brisa de uma noite morna. As avenidas estão vazias,
num desassossego doloroso.
Os cabelos dourados, presos com um travessão, para que o
vento não lhe levante a saia do vestido longo.
quinta-feira, abril 11
The end
Aprende desgostos.
Fio de tempo em verbo de escorrer.
Desconhece-o na luz tardia do dia anterior. Numa dormência
trespassada a gelo trincado. Lábios roxos de vidro que rasgam r…e…t…i...c…ê…n…c…i…a…s…
E na desconstrução da promessa, todas as avenidas são dela.
terça-feira, março 19
Blood On The Rooftops
Atirou-se ao primeiro amor emergente e brilhante, num tom de cinza
previsível,
que a libertou, com palavras a transbordar.
Olhares des[a]botados
exilando-a daquele deserto, refúgio onde por vezes se vive, em terra firme
com abundância de água salgada De tantas lágrimas.
quarta-feira, fevereiro 21
Fade Into You
Quedou-se de mãos estendidas, numa espera para que ele a tocasse. Levemente, incitando-a a sentir a ausência.
Ardente, o toque. Talvez tenha experimentado um leve tremor, arrepio de suposição.
Refém de emoções, empurra o vento invisível de palavras cegas.
Silêncio que ensurdece.
E arrisca o voo.
terça-feira, janeiro 30
Sanctuary
Na quietude da cela, a noite revela um perfume estéril de agonia.
Flores murchas que sussurram segredos de_ Verão. De
nostalgia dos dias luminosos, inclinados sobre os cabelos dourados.
sexta-feira, janeiro 26
Lose Control
O encerramento de um tempo comedido.
Num esforço não planeado, a dor de ossos estilhaçados entre
paredes florescentes por detrás de portas abertas ao acaso, a preservação da
luz cinematográfica, do prazer amargo, indo além da ficção.
Então, um grão de ouro punk e feminino, a viajar pela arte ao
som que a cidade transmite.
Acorda, acordes de agulhas injectadas em simultâneo, vibrações
que se insinuam complacentes.
A anestesia não surte efeito. Levanta-se, agradece e deambula
pelos corredores sem encontrar a saída.