quarta-feira, junho 26

Dream, Ivory


Ele viu-a passar, de mansinho. De olhos abertos ao lusco fusco do dia, como quem procura pela alma. Viu-a sair para as montanhas que lhe são vida, tão suas, tão longe de si, na imobilidade da pele pálida, massacrada pelas sombras virgens. Na flor do riso aberto ao desejo, ouviu-lhe as palavras, desenhou-a no silêncio que a morte ia por fim em surdina de verbos desencontrados. Em horas e minutos e segundos. O brilho dos corpos envenenados, palavras banais no silêncio perturbador. Sentou-se na soleira, esperando que ela regressasse.


sexta-feira, junho 14

Somewhere tonight


 

À porta do café, permanece [in]quieta, devassa a luz que lhe acende os sentidos.

Lábios gretados pelas palavras novas amordaçadas.

Memórias. São ainda assim as paixões agora com o cabelo deixado crescer, como nos anos 70 e 80. 

Recua aos tempos em que os labirintos eram desafios com destinos sem receios e a liberdade, a soma dos momentos.

Afaga a brisa de uma noite morna. As avenidas estão vazias, num desassossego doloroso.

Os cabelos dourados, presos com um travessão, para que o vento não lhe levante a saia do vestido longo.

quinta-feira, abril 11

The end

 



Aprende desgostos.

Fio de tempo em verbo de escorrer.

Desconhece-o na luz tardia do dia anterior. Numa dormência trespassada a gelo trincado. Lábios roxos de vidro que rasgam r…e…t…i...c…ê…n…c…i…a…s…

E na desconstrução da promessa, todas as avenidas são dela.

terça-feira, março 19

Blood On The Rooftops


 

Atirou-se ao primeiro amor emergente e brilhante, num tom de cinza

previsível,

que a libertou, com palavras a transbordar.


Olhares des[a]botados


exilando-a daquele deserto, refúgio onde por vezes se vive, em terra firme

com abundância de água salgada  De tantas lágrimas.


quarta-feira, fevereiro 21

Fade Into You


 

Quedou-se de mãos estendidas, numa espera para que ele a tocasse. Levemente, incitando-a a sentir a ausência.

Ardente, o toque. Talvez tenha experimentado um leve tremor, arrepio de suposição. 

Refém de emoções, empurra o vento invisível de palavras cegas.

Silêncio que ensurdece.

E arrisca o voo.


terça-feira, janeiro 30

Sanctuary

 


 


Na quietude da cela, a noite revela um perfume estéril de agonia.

Sob o luar intenso,  sonhos vagueiam aprisionados na geometria de uma ilusão asséptica que persiste. E assim, na solidão das horas mortas, a vida é melodia incerta, entre as pétalas caídas. Desfolhadas e oferecidas com um esgar de dor. Rasgada.

Flores murchas que sussurram segredos de_ Verão. De nostalgia dos dias luminosos, inclinados sobre os cabelos dourados.


sexta-feira, janeiro 26

Lose Control


 

O encerramento de um tempo comedido.

Num esforço não planeado, a dor de ossos estilhaçados entre paredes florescentes por detrás de portas abertas ao acaso, a preservação da luz cinematográfica, do prazer amargo, indo além da ficção.

Então, um grão de ouro punk e feminino, a viajar pela arte ao som que a cidade transmite.

Acorda, acordes de agulhas injectadas em simultâneo, vibrações que se insinuam complacentes.

A anestesia não surte efeito. Levanta-se, agradece e deambula pelos corredores sem encontrar a saída.