segunda-feira, setembro 5

Don't Worry About Me

 




Recuar a memórias, aos dias de flores inquietas, pela brisa suave de um sol de Verão.

 

[Descalça, a chapinhar num fio de água que restava do riacho solto na madrugada.]

 

Sei-te de olhos fechados: a pele macia, o cheiro a amor nos olhos que pousam nos meus, ignorantes de promessas.

 

O arrepio na pele, da surpresa de te ver à porta.

Silêncio.

 

O tempo perfeito neste prolongamento de fio de sémen suspenso.

 

Dá-me a tua boca. Dá-me, dá-te, solta-te, eleva-me.

Na ambiguidade da saudade…

Não digas nada: sente.

 

E eu calada, sôfrega dos teus sussurros nos meus cabelos, a tua língua nos meus ouvidos em busca de mim.

 

Despe-te, deixa a luz acesa.

Loba.

 

O prazer pelo prazer. A intimidade encaixada. Ascendo enquanto gemes, gemo porque a[s]cendes.

Tombamos um no outro. Suspiros. Recuperar o fôlego.

Não dizes nada.

 

 

E só eu sei, o que queres dizer.

quarta-feira, junho 15

Call Me When You Get Home


 

Deixo cair os olhos no pinhal

              e apanho os meus pedaços.

 

A tapar os olhos até as palmas das mãos doerem, pelo rasgo dos ramos da árvore a que trepo

na colheita do fruto proibido,

sempre que ensaio fugas

de ti,

de mim.

 

Lasciva,

esta cor de perfume

                      a escorrer-te pela barba

azul,

de manchas licorosas

almiscaradas, perigosas

que não me

deixam partir.


quarta-feira, maio 18

Show Me


 

É nos olhos que começa o beijo, como se o corpo fosse boca. 

Depois, mãos e lábios perdidos que despem a vontade demasiado rápida de consumir todo o oxigénio e saciar a sede. 

As tuas palavras beijam-me. 

Hoje, os dedos só servem para dizer adeus. 

Saudades. 


E foi com um olhar fatigado, que decidiram enterrar o tempo ausente.

terça-feira, maio 17

Bring On The Night


 

Faltam-me as mãos

maduras de abraços dourados

                               num grito,

o choro

                             da noite onde me abismo,

na incerteza dos desencontros falsificados

                                               como relógios parados

de ponteiros acrescentados.



domingo, maio 1

Carta(s) de amor


nuvens de vento empurram o sol neste sotão de memórias, onde te (res)guardo em caixas coloridas como matrioskas de ar maternal.

sento-me num caixote de madeira, deixando que a claridade vença os recantos de todas as coisas guardadas de ti: postais, anéis, brincos, colares e fios de ouro velho que não reluz agora, o teu bilhete de identidade, o cartão da maternidade, algumas agendas (onde a tua letra me é tesouro) nos recados que me deixavas (junto com o almoço já feito) na minha adolescência de preguiça em férias, antes de saíres para o emprego.

encontro agora o teu passe de autocarro, recorto a tua fotografia e deito-o fora. é assim, sempre que mexo nas tuas coisas, a tentar ficar com o mais importante, o que para mim é tudo. mas é um exercício que faço, para me tentar disciplinar a não ficar tão dependente  de objectos que fazem parte da tua memória.

é difícil desfazer-me seja do que for teu. quando o pai morreu, lá tive que dar os teus vestidos mais bonitos e o robe que ainda estava pendurado atrás da porta, e outras coisas. guardo algumas écharpes e lenços, que não usarei, porque não gosto, mas têm ainda o teu perfume, até porque estão junto com alguns sabonetes Camay (penso que americanos, com que o pai sempre te inundava e que tu recebias com o entusiasmo de uma primeira vez).

sabes (claro que sabes) já sou avó, ou seja sou mãe outra vez e tu continuas longe e eu sinto-me sempre solitária quando é a tua memória que me faz companhia.

dou corda a um dos teus relógios de pulso, com esperança que o tempo volte para trás e tu te materializes aqui na minha frente, a tentares fazer ao mesmo tempo mil e uma coisas enquanto me mimas e me beijas prendendo com uma rapidez hábil a bracelete do relógio, esse relógio antigo de tantas horas que guarda, assim o meu amor numa ampulheta de tempo, em que a areia se recusa a deslizar à velocidade desejada que é parada para que não tenha que te recordar com medo de te esquecer.

quarta-feira, abril 27

Union

 

Conta-me os teus segredos. Tenho alguns para a troca, que te farão querer tocar os meus lábios com as pontas dos dedos, assim 

l e v e m e n t e

como quem dedilha a guitarra no meu corpo em música. Cantada.

Contar os segredos, trocados em suspiros, os meus e os teus.

Agarrar o tempo, nesta primavera de fugas, num turbilhão de olhares, sorrisos cúmplices, tudo o que nos faça desassossegar.

Sussurra os teus segredos, da tua boca para mim, do meu escutar beijado na tua pele.

Vamos beber um café?



terça-feira, abril 26

My Ty She


 
Vem comigo agitar os dias, inventar sorrisos enquanto os teus dedos me arqueiam o corpo colorido pelo teu toque.  Até ferirem de prazer, os meus lábios debruados a beijos roubados, enquanto advinhas o que sinto, ao som ritmado do inalcançável, sempre que dizes amo-te.