quarta-feira, fevereiro 1

Goodnight Moon

 


Os dedos falam, enquanto aquietam as mãos que dançam em mim.

Labirinto fechado de lugares vagos, pele dócil, rosto de olhar distante, pernas que inventam passos, então.

Construo liberdades que são gritos aprendidos, espaços sem medidas, lábios debruados a abismo.

Sorriste. E amei-te logo ali. 

De alma viva, contagiada pelo céu que o teu sorriso abriu.

terça-feira, outubro 25

When a blind man cries

 

Fixas-me o olhar como quem me olha (n)os olhos, a arriscar encurralar emoções, ensaios a tracejado, amor nos reflexos de esquinas vadias, vazias, aplausos a discursos indirectos, fascínio de noites intermináveis, de aroma a antigos amantes boémios que ainda (me) percorrem de desejo.

Tento em pautas de letras imaculadas, gritar à distância que nos separa, encurtá-la, libertando sopros de suspiros fátuos, enroscando-me em ti, encaracolada de saudades, com a determinação do dia certo que o meu peito alberga em vigília. Ou luto. 

A amar assim, até ser raiz.

quinta-feira, setembro 29

In a bar

 

Foto: CM


Inebriada pela seiva, sentei-me à chuva à espera que chegasses, cintilante, como as cores da queda das folhas outonais.

Rodopiava, mentalmente enlaçada com o teu sorriso de poeta, que me aconchega nas tardes que são noites sem dormir.

Rios de sangue desaguam em mim  feridas que cicatrizo sem te dizer, para que não saibas que existes nos meus sonhos gravados na pele.

A tinta permanente.

A paixão e o amor por definir.

 

segunda-feira, setembro 5

Don't Worry About Me

 




Recuar a memórias, aos dias de flores inquietas, pela brisa suave de um sol de Verão.

 

[Descalça, a chapinhar num fio de água que restava do riacho solto na madrugada.]

 

Sei-te de olhos fechados: a pele macia, o cheiro a amor nos olhos que pousam nos meus, ignorantes de promessas.

 

O arrepio na pele, da surpresa de te ver à porta.

Silêncio.

 

O tempo perfeito neste prolongamento de fio de sémen suspenso.

 

Dá-me a tua boca. Dá-me, dá-te, solta-te, eleva-me.

Na ambiguidade da saudade…

Não digas nada: sente.

 

E eu calada, sôfrega dos teus sussurros nos meus cabelos, a tua língua nos meus ouvidos em busca de mim.

 

Despe-te, deixa a luz acesa.

Loba.

 

O prazer pelo prazer. A intimidade encaixada. Ascendo enquanto gemes, gemo porque a[s]cendes.

Tombamos um no outro. Suspiros. Recuperar o fôlego.

Não dizes nada.

 

 

E só eu sei, o que queres dizer.

quarta-feira, junho 15

Call Me When You Get Home


 

Deixo cair os olhos no pinhal

              e apanho os meus pedaços.

 

A tapar os olhos até as palmas das mãos doerem, pelo rasgo dos ramos da árvore a que trepo

na colheita do fruto proibido,

sempre que ensaio fugas

de ti,

de mim.

 

Lasciva,

esta cor de perfume

                      a escorrer-te pela barba

azul,

de manchas licorosas

almiscaradas, perigosas

que não me

deixam partir.


quarta-feira, maio 18

Show Me


 

É nos olhos que começa o beijo, como se o corpo fosse boca. 

Depois, mãos e lábios perdidos que despem a vontade demasiado rápida de consumir todo o oxigénio e saciar a sede. 

As tuas palavras beijam-me. 

Hoje, os dedos só servem para dizer adeus. 

Saudades. 


E foi com um olhar fatigado, que decidiram enterrar o tempo ausente.

terça-feira, maio 17

Bring On The Night


 

Faltam-me as mãos

maduras de abraços dourados

                               num grito,

o choro

                             da noite onde me abismo,

na incerteza dos desencontros falsificados

                                               como relógios parados

de ponteiros acrescentados.