Diz-me
se souberes
de que cor são os lençóis de linho lavrado a son(h)os
das noites dançantes, cúmplices de nevoeiros
em que as lágrimas toldam as imagens já t(r)emidas
casas de alpendres de madeira com o piano mudo no canto que não entoas
sedas de frio das fitas das bailarinas
Diz-me
quantas sombras do teu corpo se inclinam sobre o meu
em silêncios que mesmo assim, despertam curiosidades alheias
e sorrisos cúmplices de vizinhas amarguradas pela solidão
Diz-me
porque é firme a minha carne que insistes em tatuar com o teu olhar
a tinta permanente que fixa as pupilas à cor e pólens a preto e branco
em arrepios de vida, pássaros errantes, lua amaciada
porque é intensa a memória que não te deixa partir
mesmo nos dias em que a boca sabe a sangue de tanto gritar o teu nome
nas noite em que solto gemidos noutro corpo que não o teu.
Diz-me
se souberes
porque me espreitas sem me chamares
quando passo tardes à janela das árvores que salvo de serem secas por animaizinhos que não vês
porque me recordas em lágrimas, sempre e antes que a noite chegue,
no lusco fusco de retratos a sépia
e me envolves no manto que é o nosso casulo (outrora edredon de algodão)
até ficarmos sem ar e nos resgatarmos de nós
numa solidão
onde não cabe a vida sem imaginação.
11 comentários:
Intenso ete sentir...Diz-me é tantas vezes uma mera questão da mente que caí em boa poesia.
Beijos
Que linda e intensa esta interrogação que sempre fazemos ao outro...!
Entrei nestas palavras e consegui ser um pouco da paixão que transmitem. Porque são sentimento puro. Sei que quando aqui venho me esperam bons momentos de leitura. Hoje desfrutei de uma fabulosa viagem. Obrigada!
Beijinho
Continuas imparável ! Gosto imenso desta tua fase de escrita. É uma escrita limpa , onde aconchegamos os nossos sonhos.
Beijo meu
M.
a vida cabe sempre em quem exala vida em cada poro
Sinto-me incapaz de articular algo que possa acrescentar algo à beleza sem tamanho do seu poema, então deixo-te Clarice:
"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la".
Clarice Lispector e um beijo!
Porquê?
... se se se ...
talvez te contasse como se faz o pão
e os barcos partem sem marinheiros
rumo a inacreditáveis "destinos"
só pelo prazer de viajar
nas suas palavras
e estar sempre a partir
e a chegar
como se o mar não fosse mais que a cama onde se deitam os barcos
Gostei do seu texto
de uma dolência/ardência vibrante. como uma tatuagem de alma...
excelente poema
beijo
se eu soubesse... dizia-te :)
mas eu sou a Mulher dos porquÊS :))
BEIJOS
adorei o chã (como sempre)
Muito bem escrito, e nem faltou a presença do nemátodo!
Um beijo
as tuas palavras
são da "cor" desse linho
alvo
puro
produzido por mãos
maviosas
belas.
Ah as palavras
as tuas palavras...
obrigado pelo poema
um beijo
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