segunda-feira, junho 23

Oração


morreu[-se] assim, aos poucos, como que  a respirá-lo nos dias sem mácula, sem aromas nem cores num beijo de encolher de ombros

olhou-a parada, anunciada. de pálpebras abertas ao vento, como quem chora. ou reza.

viu-o desenhado nas montanhas que lhe são corpo, tão seu…
…tão longe de si própria,  na imutabilidade dos dedos pálidos, macerados pelas dores sempre virgens. 

na flor do sorriso aberto à vontade, espreitou-lhe as palavras, desenhou-se no silêncio que a morte ia emudecendo, em surdina de verbos corrompidos pela desentendimento.

o tempo inquieto a secar a boca
louca
na extravagãncia excessiva de já não o escutar. nem falar.

tão só.

desde então, bebe-O  numa oferenda de domingos castos
                                    bastos os dias finitos em que navega o verão.

5 comentários:

Anónimo disse...

Brutal como a poesia sem fôlego.

Von

Graça Pires disse...

Um poema intenso e muito belo.
Um beijo.

Filipe Campos Melo disse...

respiram-se as palavras que se erguem como memória
no contorno de um corpo
suspenso
na surdina de uma prece silenciada

bjo. amigo


Mar Arável disse...

Não há morte nem princípio

tudo se move

Fá menor disse...

Há... verbos corrompidos pelo desentendimento
que levam a
certas mortes...

Gostei, mais uma vez, de te ler.

Beijinhos